Escrito por: CNTE

20 anos do “Não à ALCA”: Mar del Plata simboliza soberania e integração latina

Encontro em Mar del Plata marca os 20 anos do “Não à ALCA” e reforça o compromisso dos movimentos sociais e sindicais pela integração, soberania e defesa da democracia na América Latina.

Mar del Plata (na Argentina) voltou a ser palco de debates centrais para a integração latino-americana e a defesa da soberania dos povos. Nos dias 4 e 5 de novembro, representantes de centrais sindicais, movimentos populares e organizações internacionais reuniram-se na Argentina para marcar os 20 anos da derrota da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), celebrada em 2005 na mesma cidade. A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) esteve presente no encontro, integrando a delegação brasileira ao lado de outras entidades do movimento sindical.

O evento foi organizado por entidades argentinas e internacionais, incluindo CTA Autónoma, CTA dos Trabalhadores, CGT, UTEP, Mundo Sur, Confederação Sindical das Américas (CSA), Federação Sindical Mundial (FSM), Foro de São Paulo, Movimentos ALBA, Comitê Coordenador das Centrais Sindicais do Cone Sul (CCSCS) e Marcha Mundial das Mulheres. Ao todo, mais de 150 delegados de países como Brasil, Uruguai, Bolívia, Cuba, México, Portugal, Haiti, Palestina, Chile, Nicarágua, Peru e Paraguai participaram das atividades.

A abertura resgatou a importância histórica do “Não à ALCA” (movimento político e social latino-americano que, em 2005, rejeitou a criação da ALCA, um projeto liderado pelos Estados Unidos que pretendia abrir totalmente os mercados do continente), momento que simbolizou uma virada na geopolítica regional e fortaleceu governos populares comprometidos com integração, políticas sociais, soberania nacional e direitos trabalhistas.

Durante os dois dias, os participantes discutiram desafios atuais, como o avanço da extrema-direita, a militarização de territórios, ataques aos direitos sociais e trabalhistas, e a necessidade de fortalecer alianças continentais em defesa da democracia e justiça social.

Educação e soberania: vozes dos sindicatos brasileiros

Para a presidenta do CPERS e coordenadora do Departamento de Especialistas em Educação (DESPE) da CNTE, Rosane Zan, "é preciso reafirmar que as políticas públicas, como educação, saúde e segurança, são deveres dos nossos Estados. Devemos assegurar essas políticas na América Latina, porque isso faz parte e garante a nossa soberania".

Na avaliação de Kátia Cilene, presidenta do Sinsepeap (AP), a luta contra a ALCA e a defesa da soberania dos povos seguem atuais: “Os ataques têm nome, são empresas que querem o financiamento da educação e um Estado mínimo, sem democracia e sem salários justos. A história dos 20 anos do ‘Não à ALCA’ mostra a unidade dos países da América Latina contra o poder dos Estados Unidos e o fortalecimento da nossa soberania. Hoje, mais do que nunca, estamos em alerta contra o retrocesso e contra novas formas de ditadura”.

Ela acrescenta que o fortalecimento da educação pública é central nesse processo: “Estamos unindo forças, promovendo encontros e fortalecendo as entidades de trabalhadores da educação para defender a democracia, a soberania e uma América Latina justa e solidária”.

Compromisso coletivo pela integração e pela justiça social

Representantes sindicais e autoridades destacaram que, apesar das mudanças no cenário internacional desde 2005, o espírito de resistência permanece vivo. O governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, avaliou que o mundo atravessa uma fase de transição e enfatizou que a integração regional continua sendo condição estratégica para o desenvolvimento dos países latino-americanos. Lideranças de movimentos sociais e centrais sindicais reforçaram a necessidade de reconstruir a unidade popular para enfrentar novas formas de ofensiva neoliberal.

O encontro encerrou-se com a reafirmação do compromisso coletivo com a integração continental, a defesa dos direitos conquistados e a construção de alternativas populares frente ao avanço da extrema-direita no mundo. As entidades presentes também anunciaram a intenção de ampliar articulações políticas, sindicais, sociais e parlamentares em nível internacional.

O encontro terminou com uma declaração conjunta de compromisso em fortalecer a integração latino-americana, defender os direitos sociais conquistados e construir alternativas populares diante do avanço da extrema-direita. As entidades também reafirmaram a importância de ampliar a articulação entre movimentos sindicais, sociais, políticos e parlamentares, em uma agenda comum voltada à democracia, à soberania e à justiça social no continente.