Escrito por: CNTE
Perda de recursos de assistência estudantil e a falta de direcionamento no MEC prejudicam exame
Descaso é o nome que especialistas dão para o governo federal em relação ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), organização responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, que passa por uma crise atrás da outra. A União Nacional dos Estudantes (UNE) denuncia que o Enem pode correr sérios riscos se os alunos deixarem de fazer o exame.
De acordo com a presidenta da UNE, Bruna Brelaz, o Enem é um instrumento poderoso da democratização do acesso ao ensino superior e os estudantes não podem deixar que desmontem ainda mais este direito. “Acaba por atrasar cronogramas, principalmente de segurança, e não podemos prever os impactos na prova, na correção, nos resultados, mas sabemos que ano após ano o MEC está enfraquecido e aparelhado pelo governo Jair Bolsonaro. Mas mesmo assim, aconselhamos os estudantes: façam a prova e não deixem que o governo precarize mais o exame para justificar o seu fim”, destacou.
A crise no Inep não é nova: em 2021, faltando poucos dias para a prova, ocorreu uma demissão em massa de mais de 30 servidores do instituto responsável por um dos exames educacionais mais complexos do mundo.
O Brasil é um país de dimensões continentais, que sofre com a desigualdade de suas diferentes regiões, mas que precisa aplicar uma prova de maneira equânime e simultânea para todos. É papel da equipe de coordenação do Inep, por exemplo, garantir a segurança deste processo, não apenas nas etapas anteriores à prova, mas principalmente durante sua execução.
Enem 2022
Ao todo, 3.396.632 pessoas estão inscritas, considerando as duas versões (impressa e digital), mas a presidenta da Une afirma que é um número bem baixo de inscritos devido a situação do país e a desorganização do Ministério da Educação (MEC).
“É um número baixo em comparação aos anos anteriores, só perde mesmo para 2021. Nem a estabilidade da crise sanitária e a volta às aulas presenciais conseguiram reverter a situação. Há a instabilidade econômica, perda de recursos de assistência estudantil e a falta de direcionamento no MEC para fortalecer o Exame”, disse Bruna.
Em uma matéria publicada no site do Jornal da USP, Renato Janine Ribeiro, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e ex-Ministro da Educação, disse que a situação atual é vista “com muita preocupação”.
A crise na gestão “indica realmente que nem o Inep nem o MEC dão a devida importância a esse exame que é o segundo maior do mundo, somente superado pelo Gaokao, na China”, alerta Janine Ribeiro.
De acordo com o professor, a diminuição no número de inscrições em relação aos anos anteriores, em especial dos estudantes mais pobres, já dava o alerta para a edição de 2022.
“O fato de haver poucas inscrições indica um certo desânimo”, comenta o ex-ministro. “É possível que muitos alunos de escola pública acreditem que não vão poder concorrer por causa do ensino de pouca qualidade oferecido durante a pandemia”, destaca Janine.
Sobre as mudanças no INEP
O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), Danilo Dupas, pediu demissão no último dia 27 de julho. Ele alegou motivos pessoais para deixar o cargo. Desde o dia 1º de agosto, o diretor Carlos Moreno é o presidente do instituto. O anúncio foi feito na mesma quarta-feira (27) pelo ministro da Educação, Victor Godoy, por meio do Twitter.
Anuncio que a partir de 1° de agosto o diretor Carlos Moreno será o novo presidente do Inep, respondendo interinamente e garantindo a continuidade dos exames e avaliações fundamentais para toda a sociedade brasileira.
— Victor Godoy (@victorv_godoy) July 27, 2022