Escrito por: CNTE
Carmen Foro
Vice-presidenta da CUT
Desde a sua fundação, em 1983, a CUT tem sua história marcada pelo compromisso com a construção da democracia e com a luta pela superação do modelo sindical corporativo, machista e dependente do Estado.Vislumbrando a construção de um novo jeito de fazer sindicalismo, as mulheres sempre fizeram, e fazem, parte da luta e organização dos trabalhadores e das trabalhadoras pela redemocratização do Brasil.
Ao longo dos anos, a presença organizada das mulheres foi fundamental para consolidar a CUT como uma Central representativa e protagonista em todos os processos políticos do nosso País. Da construção das oposições sindicais até as greves gerais dos anos 1980 e o processo Constituinte, em que se conquistaram importantes direitos para os trabalhadores e as trabalhadoras na sua diversidade, as mulheres sempre estiveram presentes escrevendo sua história de lutas e conquistas.
A participação da mulher no sindicalismo cutista possibilitou repensar a política sindical, de modo que este incorporasse também a luta e as demandas das mulheres. A auto organização das mulheres em nossa Central e a atuação à frente de várias secretarias serviu de base para que as mulheres conseguissem mobilizar esforços e fortalecer o debate acerca da condução paritária da CUT.
A paridade de gênero na direção da CUT, aprovada no 11º Congresso Nacional da CUT (CONCUT) de 2012, com a democratização do poder representativo e maior participação das mulheres nas decisões da Central, é mais que um número, é uma política.
Assim, se configurou uma estratégia política e organizativa muito importante das e para as mulheres. Os caminhos trilhados possibilitam a participação igualitária de homens e mulheres nos postos de direção, cargos políticos e de representação, sendo esta participação igualitária uma questão de justiça social e de qualidade da democracia interna.
Com a paridade, se sustenta o princípio de justiça democrática de modo que o sexo não seja critério para discriminar as mulheres no acesso ao poder político uma vez que não é natural nas direções políticas e nas instâncias de poder e decisão, onde existe predominância de homens.
A conquista e a implementação da paridade no 12º CONCUT, em 2015, significam mudar a conformação das estruturas de poder e democratizar as práticas políticas.
Aplicar o princípio da paridade significa garantir que as mulheres tenham o mesmo acesso ao poder político em todos os seus níveis, a começar pela própria organização sindical, garantindo que elas estejam representadas da mesma maneira que os homens em todos os âmbitos da vida social, econômica e cultural.
Buscamos ainda, incorporar a questão da igualdade e fortalecer a prática antidiscriminação na agenda política, pois se as mulheres estiverem presentes nos espaços de direção, avançamos mais rapidamente noreconhecimento das desigualdades de gênero e na elaboração de propostas para superar as iniquidades existentes no mundo do trabalho como, por exemplo, salários mais baixos, ausência de determinados direitos, como direito a salário maternidade, acesso a creche, direito ao tempo para amamentar e a subvalorizaração dos trabalhos realizados pelas mulheres no mundo sindical.
Com a paridade, as mulheres no movimento sindical de forma igualitária, tudo muda, pois, apesar de haver homens solidários e companheiros na defesa da pauta das mulheres, que se empenham em incluir e defender as propostas nas negociações coletivas que impactam diretamente as mulheres, são elas que têm a autoridade política e a legitimidade enquanto sujeito histórico para explicitar e dar voz às suas próprias demandas.
A paridade, como estratégia política, altera a lógica do exercício do poder representativo nas direções estaduais e nacional da CUT. Essa mudança vai além dos números, e precisa de ações concretas para sua real implementação. É necessário que as mulheres tenham condições para exercerem seus mandatos. Isso significa, entre outros, liberação, garantia de infraestrutura para desempenhar seu papel político e participação nas mesas de negociação.
Ela provoca uma discussão na sociedade sobre o que é a desigualdade entre homens e mulheres e sobre o que fazer para superá-la, além de promover a consciência da necessidade de alterar as relações cotidianas, que ainda são marcadas por um forte viés patriarcal e machista, que subjuga a capacidade das mulheres.
Com o exercício democrático e paritário, os/as sindicalistas terão o desafio de mudar essa realidade, praticando, no seu dia a dia, a divisão de tarefas domésticas e compartilhamento das responsabilidades pelos cuidados com os/as dependentes e aprofundar o debate pela melhoria da qualidade de vida e das condições de trabalho.
A paridade como estratégia política busca alterar as condições de desigualdades entre homens e mulheres e acrescentar ao debate interno temas como: a luta pela implementação das políticas públicas, o direito a creches públicas, lavanderias coletivas e ampliação do direito a licença paternidade, além de promover o debate com relação à mudança nos horários de trabalho e à redução da jornada de trabalho, de modo a contribuir para a inclusão das mulheres de forma igualitária.
A participação da mulher de forma paritária possibilita a garantia da transversalidade de gênero em todas as políticas, atividades e espaços da CUT, reafirmando, assim, o conjunto das demandas da classe trabalhadora. Com isso, será possível exercer a representação sindical com foco no desenvolvimento de um país mais justo, com geração de renda, valorização do trabalho, autonomia e liberdade sindical com a participação igualitária de mulheres e homens.
O cumprimento da paridade na CUT nacional e nas CUTs estaduais significa um reflexo absolutamente positivo nos sindicatos, nos ramos e em várias categorias, o que representa maior presença e qualificação, porque não existe possibilidade de aprender a fazer política se não for fazendo política. É fazendo política, é estando na militância e dirigindo os sindicatos, dirigindo as centrais, dirigindo importantes ramos e importantes categorias que vamos fazer com que esses 32 anos de acúmulo nos dê a possibilidade de fazer da CUT uma outra CUT.
Só se cresce fazendo e quanto mais mulheres estiverem no movimento sindical, mais teremos possibilidade de trazer para dentro do movimento históricas bandeiras das mulheres que só estarão incluídas na pauta geral da classe trabalhadora se nós estivermos presentes.
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