Escrito por: CNTE

Câmara debate fim do confisco de aposentadorias com destaque para críticas da CNTE

Aposentados que dedicaram uma vida contribuindo foram surpreendidos por regras duras que confiscam seus direitos

TV Câmara

A Câmara dos Deputados realizou nesta quinta-feira (8) uma audiência pública convocada pela Comissão de Administração e Serviço Público para discutir os impactos da Emenda Constitucional 103/2019, conhecida como reforma da Previdência, que autorizou o confisco de até 14% nos proventos de aposentados e pensionistas do serviço público que recebem abaixo do teto do INSS. 

O debate, proposto pela deputada federal Professora Luciene Cavalcante (PSOL-SP), reuniu sindicalistas, associações de classe e parlamentares, em um clima de crítica e revolta contra o "confisco injusto" e "ataque aos direitos conquistados".

Ao abrir os trabalhos, a parlamentar não poupou críticas à Reforma da Previdência de 2019, classificando-a como "uma das maiores violências contra os trabalhadores desde a Constituição de 1988". Ela lembrou que São Paulo foi o primeiro estado a implementar o desconto, mas que, após intensa mobilização, conseguiu revogá-lo. Luciene alertou para os riscos da PEC 66, que trata de precatórios mas, em sua avaliação, "esconde um jabuti que pode reintroduzir a obrigatoriedade do desconto como contrapartida à isenção de IR para rendas de até R$ 5 mil".

O tom da indignação foi amplificado por Sérgio Antonio Kumpfer, secretário de Aposentados e Assuntos Previdenciários da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). Em sua intervenção, feita no formato virtual, Kumpfer destacou que a reforma previdenciária imposta em 2019 tem causado "sofrimento e prejuízos aos professores e funcionários da educação pública básica em todo o país". Ele lembrou que a EC 103, fruto do "golpe de 2016", veio acompanhada de outras medidas como a reforma trabalhista e a terceirização, prejudicando a estrutura pública. "Aposentados que dedicaram uma vida contribuindo foram surpreendidos por regras duras que confiscam seus direitos", afirmou.

O representante da CNTE criticou a postura de governos estaduais e municipais que, segundo ele, aplicaram as regras mais cruéis da reforma, especialmente em regimes próprios de Previdência. Kumpfer também mencionou o julgamento no STF sobre a legalidade do desconto, que chegou a ter placar favorável (7 a 3) antes do pedido de vistas do ministro Gilmar Mendes. "Esse é o passo mais perto, é o espaço mais próximo de nós construirmos uma vitória e superar o confisco”, afirmou, cobrando que os ministros mantenham seus votos contrários à cobrança.

Kumpfer também destacou a mobilização dos aposentados, citando a Marcha da Classe Trabalhadora de 2023, quando educadores protestaram em frente ao STF com faixas contra o confisco: “E na marcha que teve no dia 29 de abril de 2025, muitos chegaram em Brasília no dia 28 e foram para frente do STF com seus cartazes e suas faixas para pedir que esse tema seja pautado, porque o resultado prático dessa decisão que está sendo julgada lá é o retorno da contribuição de aposentadorias e pensionistas a partir do teto”, disse.

Sobre as ações no Congresso, o sindicalista defendeu a aprovação da PEC 6/2024, que isenta aposentados por invalidez e reduz gradualmente as contribuições, e criticou a PEC 66, que trata de precatórios, mas, em sua avaliação, "abre brecha para novos ataques aos regimes próprios". "Precisamos pressionar pela criação de uma comissão especial e por emendas que isentem todos os aposentados", disse.

A audiência também contou com a participação da presidente da Associação de Professores Aposentados do Magistério Público do Estado de São Paulo (APAMPESP), Maria Walneide Romano, que denunciou a "crueldade institucionalizada" do confisco e cobrou do STF a retomada urgente do julgamento.

Debora Dimitrov, vice-presidente do Sindicato dos Professores e Funcionários Municipais de São Paulo (APROFEM), trouxe o exemplo concreto da capital: "Enquanto o estado revogou o desconto, na cidade mais rica do país, idosos com salários de um mínimo ainda têm 14% confiscados". Ela detalhou o efeito bola de neve: "São professores aposentados e funcionários de escolas que já ganhavam pouco e agora enfrentam dívidas por causa desse roubo legalizado", disse.

O debate reforçou a articulação de entidades para pressionar o STF e o Congresso, com a possibilidade de recorrer a cortes internacionais caso a reforma previdenciária seja mantida.