Escrito por: CNTE
Os números podem estar subnotificados porque muitos alunos deixaram a escola por várias razões
2022 09 22 gabriel jabour agencia brasil
Gabriel Jabour/Agência Brasil
Com dados enganosos e subnotificados, os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Brasileira (Ideb) e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2021, termômetro para medir a qualidade do ensino público e privado no país, só não foram piores devido ao comprometimento dos trabalhadores e trabalhadoras da educação durante o período da pandemia de Covid-19.
Quem afirma é o professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), Fernando Cássio, em entrevista, nesta quarta-feira (21), ao portal da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).
“A queda só não foi maior porque tinham professores/as fazendo o que era possível porque passaram dois anos de pandemia com a rede estadual em situação lastimável, e a rede que tinha mais condição de fazer, não fez. O resultado é ruim, mas só foi melhor por conta dos/as professores/as engajados”, diz.
Fernando afirma ainda que os/as professores/as, mesmo desvalorizados/as, são responsáveis pela melhora do resultado, não o Ministério da Educação (MEC) e as secretarias estaduais de educação. “As perdas de aprendizado na pandemia são reversíveis, ou seja, o desastre propagado foi evitado, é justo reconhecer o esforço das/os educadoras/es. Além de terem ajudado a salvar vidas, fizeram um enorme esforço para garantir que as crianças e jovens aprendessem”.
Segundo os dados do Ideb, apesar da queda na aprendizagem entre 2019 e 2021, o índice se manteve estável nas três etapas do ensino. As taxas de aprovação, que fazem parte do cálculo, ficaram distorcidas durante a pandemia, após grande parte dos estados brasileiros adotarem a aprovação automática.
No entanto, especialistas têm afirmado que os números podem estar subnotificados porque muitos alunos deixaram a escola por várias razões, seja por falta de internet durante a pandemia, como falta de merenda e evasão escolar.
“Não é só responsabilidade do MEC, mas das redes de ensino. Por exemplo, em São Paulo tivemos um ano de atraso de material para alunos, não auxiliaram os municípios que dependem mais, tivemos redes de ensino que lavaram as mãos, seria melhor se o gestor não tivesse se omitido durante a pandemia”, critica o professor.
Fernando rebateu ainda a fala de secretários de educação que falam em perdas catastróficas. “A gente precisa combater essa ideia de que existe “uma geração perdida” porque ela serve para os gestores educacionais se omitirem, no sentido de não ter mais nada a fazer. A educação não é isso, ela é um projeto, a perda na pandemia é reversível, mas depende de planejamento, da ação, do programa de aprendizagem”, completa.
Resultado artificial
De acordo com os dados de 2021, as duas etapas do ensino fundamental e o ensino médio tiveram queda de aprendizagem tanto em escolas públicas e privadas. Na pandemia, as redes de ensino seguiram orientação de não reprovar os alunos, com isso, os dados do Ideb ficaram prejudicados, dando um resultado artificial de melhora.
Para Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, não é novidade que o desempenho dos alunos das escolas públicas não vem crescendo há anos. Segundo ele, isso vem sendo mostrado em seguidos ciclos do Saeb.
“A grande novidade é que mesmo com a pandemia, e todo o impacto que ela causou, o desempenho não despencou, como era propagado. Obviamente, ocorreram perdas, mas o desastre aguardado foi evitado pelo trabalho dos professores/as”.
O Saeb 2021, divulgado na última sexta-feira (16), avaliou estudantes das escolas públicas de 5º e 9º ano do Ensino Fundamental e de 3ª e 4ª série do Ensino Médio, nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. Os estudantes do 2º ano do ensino fundamental também foram avaliados em Língua Portuguesa e Matemática, e 9º ano nas áreas de Ciências Humanas e Ciências da Natureza.
“Obviamente, qualquer queda de desempenho preocupa. Também é verdade que o Saeb e o Ideb são limitados e precisam de aperfeiçoamentos. Mas 97,1% das escolas brasileiras participaram do Saeb 2021 e é impressionante o esforço hercúleo das/os educadoras/es na pandemia”, diz Cara. “Precisamos valorizar os profissionais de educação e o papel que as famílias tiveram durante a pandemia de Covid-19”, finaliza Fernando Cássio.