Escrito por: CNTE
“Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar” - Nelson Mandela
E m mais de 70 países, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), ainda existem leis que criminalizam relações homossexuais e expressões de gênero, o que resulta na falta de acesso a seus direitos econômicos, sociais e culturais. Apenas um terço das nações conta com legislação para proteger indivíduos da discriminação por orientação sexual. No Brasil, 2019 foi um ano marcado por diversas mobilizações em defesa dos direitos LGBTQI+ e por algumas conquistas, como a criminalização da homofobia e da transfobia.
Com o lema: “Tire seu preconceito do caminho, vamos passar com nosso amor”, a Organização Não Governamental (ONG) Mães Pela Diversidade marcou presença em centenas de atos contra o ódio, a perseguição e a ignorância disseminada contra a população LGBTQI+. A coordenadora nacional da ONG, Majú Giorgi, mencionou um evento bem marcante para o grupo: “A nossa participação no Congresso Brasileiro de Pediatria, em São Paulo (SP), teve repercussão no país inteiro, pois fomos para dizer que a criança LGBT existe sim. No dia seguinte, estávamos falando na Secretaria de Saúde de São Paulo e as coordenadoras da ONG, de vários estados, estavam sendo procuradas por pediatras. Foi incrível”, lembra Majú.
“Outra coisa sensacional é que, há algum tempo, somos chamados para palestrar em grandes empresas, escritórios de advocacia, startups e multinacionais como Bank of America, JP Morgan, PWH, Johnsons, Gerdau e Gol”, acrescenta Majú. O grupo surgiu como contraponto a uma frase que Jair Bolsonaro disse em 2007, quando ainda era deputado federal: “Nenhum pai e nenhuma mãe tem orgulho de ter um filho LGBT!”. “Nascemos para chutar a porta do armário e gritar aos quatro ventos que temos um orgulho imenso por termos filhos honestos, trabalhadores, amorosos e imensamente injustiçados”, desabafa a coordenadora. “Nascemos para dizer que somos família sim, bem constituídas, que cumprem seus deveres, pagam imposto para o Estado brasileiro e vivem de acordo com a única coisa que nos une a Bolsonaro, a Constituição”, declara Majú.
Violência
A população LGBTQI+ brasileira é estimada em 20 milhões de pessoas, o que representa cerca de 10% da população nacional e o Brasil é considerado um dos países mais homofóbicos do mundo. Em 2018, foram registradas 420 mortes por homicídio ou suicídio decorrente da discriminação. Em 2019, segundo relatório produzido pelo Grupo Gay
da Bahia, a cada 20 horas uma pessoa LGBTQI+ é assassinada ou se mata vítima da LGBTfobia.
De acordo com a psicóloga Jaqueline Gomes de Jesus, a população LGBTQI+ está como alvo principal da política de violência estatal praticada pelo governo. “Tenho acompanhado
um aumento nos casos de depressão, tentativa de suicídio e suicídio, não só na população LGBTQI+, como em pessoas de campo de esquerda e mulheres também”, explica Jaqueline, que também é professora do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ).
“O maior problema é lidar com os governantes que atuam nesta linha de um discurso agressivo e que defende a priorização de determinados aspectos econômicos em detrimento da
garantia de direitos da população”, explica a psicóloga. “O governo não diz que quer certas pessoas [LGBTQI+] mortas, exterminadas, mas ele atua tirando recurso de conselhos e inviabilizando políticas públicas efetivas”, conclui Jaqueline.
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