Escrito por: CNTE
“Minha expectativa é poder levar o projeto à discussão na plenária nacional, ter a oportunidade de defender o mesmo e, quem sabe, ver em um futuro próximo sua aplicação prática em todas as unidades de ensino do nosso país”, compartilha a educadora Samyra Guergolett
Em São Paulo, o trabalho da educadora Samyra Moreira Guergolett, 34 anos, tem buscado integrar alunos migrantes estrangeiros com um ensino mais acolhedor. Trabalhando a pluralidade cultural e das pessoas entre os alunos da Escola Estadual Heróis da FEB, na zona norte de São Paulo, a iniciativa foi vencedora do Concurso “Juventude que Muda a Educação Pública”, da CNTE.
Samyra conta que a ideia nasceu inspirada em suas experiências de quando era estudante e na vontade de mudar situações de incoerência na educação. Formada em Automação de Escritório e Secretariado Executivo Bilíngue pela Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (FATEC SP), licenciada em Língua Portuguesa e pós-graduada em docência em comunicação e marketing digital, ela atua há três anos no magistério.
“Desde muito nova, passei por inúmeras situações de descrédito. A escola também não era fácil. Passei por inúmeras situações de preconceito, racismo, exclusão, bullying e violência. Ao ingressar no ensino técnico na Etec São Paulo (Etesp), tive a oportunidade de amadurecer como estudante e cidadã ativa na militância estudantil”, relata.
Desde então, ela se dedica à luta pelos direitos dos estudantes, em atenção para que esses entendam e saibam que possuem apoio para alcançar seus objetivos. Ao ingressar como educadora no magistério, viu a oportunidade de fazer a diferença, trazendo projetos inovadores e dinâmicas de sala de aula diferentes, unindo o aprendizado literário com as vivências pessoais.
O projeto
Em 2023, na Escola Estadual Heróis da FEB, uma das instituições onde Samyra atua, na região periférica da zona norte de São Paulo, o projeto ‘Tutoria Pedagógica Bilíngue’ buscou transformar a experiência dos alunos em extrema carência que a escola atende.
“É uma região com enorme pluralidade de pessoas, cultura, religiões, e nações. Temos estudantes da Angola, Paraguai, Bolívia, Haiti, República Dominicana etc. (...) e muitos desses estudantes chegam à escola sem compreender a língua portuguesa, nossos costumes, leis, ou cultura”, conta.
Apesar de matriculados no sistema de ensino, a educadora chama atenção para as grandes falhas que ainda existem na integração dos alunos estrangeiros. Segundo ela, o acolhimento desses tem se transformado em exclusão, quando são institucionalizados e obrigados a realizar provas das quais não possuem entendimento e preparo. Além disso, muitos acabam se tornando alvo da xenofobia e racismo.
Após o planejamento da ideia, Samyra passou a desenvolvê-lo de forma prática, com apoio e parceria da professora de educação física, Yeda Mara Garcia (coreógrafa), e dos alunos dominicanos e haitianos da escola.
“O projeto foi prático, mas também buscou compreender a ressignificação da cultura deles (alunos), reforçando a importância da troca de aprendizado entre nossas culturas”, conta.
Entre as atividades desenvolvidas, o projeto promoveu ensaios de dança, canto, gravação de relatos pessoais dos alunos sobre a nova realidade de sua família após a chegada no Brasil, além de uma degustação de comidas típicas dos países dos estudantes, culminando em uma grande festa de apresentações no mês da consciência negra.
“Foi possível ver e sentir a emoção dos alunos, dos professores… o orgulho que sentiram. Além disso, os nossos estudantes brasileiros ficaram mais interessados em saber mais sobre a diversidade da nossa escola”, relata a educadora.
Juventude que muda a educação pública
Uma iniciativa do Coletivo de Juventude da CNTE e suas entidades sindicais filiadas, o projeto “Juventude que Muda a Educação Pública” busca aproximar os jovens trabalhadores da educação com a luta sindical. Segundo o coordenador do Coletivo, Luiz Felipe Krehan, o concurso é uma forma de dizer que a CNTE e seus sindicatos filiados estão na luta com esses educadores.
Bruno Vital, que também coordena o Coletivo, reforçou que o concurso joga luz sobre como a juventude está mudando suas realidades por meio da educação.
“Além de criar a identidade e a demarcação etária da juventude, o concurso nos ajuda a dialogar com esse segmento e também nos aproximar desses/as trabalhadores/as, estando eles/as sócios ou não a nossas entidades.”
Ao ter conhecimento da vitória do projeto, Samyra relata o sentimento de orgulho de todos que fizeram parte da realização.
“Em particular, me sinto muito emocionada em ter realizado esse projeto, tendo paciência e lutando para que ele se torne ainda maior. Receber esse prêmio tem um enorme significado”, ela compartilha.
Samyra Moreira Guergolett
Na premiação, nos dias 28, 29 e 30 de janeiro, ela e mais quatro vencedores do concurso terão a oportunidade de apresentar seus projetos no cenário nacional na Conferência Nacional de Educação (Conae 2024), em Brasília.
“Minha expectativa é poder levar o projeto à discussão na plenária Nacional, ter a oportunidade de defender o mesmo. E quem sabe ver em um futuro próximo sua aplicação prática em todas as Unidades de ensino do nosso país”, declara.