CNTE na luta contra a militarização das escolas brasileiras
Foto: Michael Melo/Metrópoles
Educadores de todo o país se solidarizam com a professora Luciana Paim e denunciam os limites do projeto de militarização das esclas brasileiras
No último sábado (20/11), o caso do CED 01 da Estrutural, uma escola pública de Brasília, tornou-se o último exemplo da inviabilidade de um projeto levado a cabo pelo Governo Bolsonaro e copiado pelo Governador do DF Ibaneis Rocha: a militarização das escolas públicas brasileiras deixa evidente que, na escola, os protagonistas devem ser sempre os/as professores/as, funcionários/as da educação, estudantes e comunidade escolar.
Uma exposição dos estudantes sobre o Dia da Consciência Negra, em um trabalho pedagógico orientado para que eles expusessem sua visão sobre o assunto a partir de charges e tirinhas de revistas e jornais, foi o palco para que, mais uma vez, os setores mais reacionários da nossa sociedade pudessem regurgitar suas ideologias e preconceitos mais vis. O diretor disciplinar da escola, um militar, tentou censurar a atividade. Um representante de um movimento autointitulado conservador de Brasília e um deputado do Ceará criaram uma celeuma e um clima de distúrbio e enfrentamento que passou longe até do tom assumido pela Polícia Militar do DF, protagonista do que o Governo do Distrito Federal veio a chamar de parceria cívico-militar.
A reação da comunidade escolar foi imediata. No seio de uma escola militarizada, na periferia de Brasília, os estudantes se puseram imediatamente ao lado da vice-diretora da escola que, mesmo sob ameaça, garantiu e assegurou a liberdade do projeto pedagógico de sua unidade de ensino. Luciana Paim, que sofreu todo tipo de pressão dos militares que estão na escola e do próprio deputado bolsonarista do Ceará, que invadiu a escola e a ameaçou, foi uma gigante na defesa da liberdade de seus estudantes. Não por outro motivo recebeu
a sua solidariedade de pronto.
As referências feitas pelos estudantes em sua exposição no que se refere à atuação da Polícia é reflexo direto de um país que conta com os maiores índices de violência policial do mundo. Em uma escola de uma das regiões mais pobres da cidade, que conta com uma maioria de estudantes negros/as, cabe à PMDF desconstruir, a partir de ações concretas, essa imagem pública negativa da qual ela também é vítima. Sabemos que a polícia brasileira é a que mais mata no mundo, mas também é a que mais morre. O genocídio da
população jovem e negra nas periferias do Brasil é reflexo dessa absoluta ausência de legalidade praticada por muitos de seus membros que, certamente, não honram a missão pública que lhes foi conferida.
A própria nota pública da PMDF sobre o caso, que assumiu um tom muito mais sóbrio e de defesa dos direitos humanos, para além de destoar do histerismo desses representantes mais radicais do bolsonarismo, é um indicativo de que pontes podem e devem ser construídas nesse diálogo tão necessário. E será pelo diálogo a resolução de todo e qualquer tipo de conflito, em especial no ambiente escolar. Esse deve ser o valor norteador de uma escola laica e republicana pela qual muitas gerações de brasileiros e brasileiras lutaram.
Os/as educadores/as de todo o país se solidarizam com a professora Luciana Paim, vice-diretora da unidade escolar do DF, que soube defender a liberdade de ensino do projeto pedagógico da escola, princípio assegurado em nossa Constituição. Nossa solidariedade também se estende aos estudantes e comunidade escolar do CED 01, que de imediato se colocaram ao lado do justo e contra todo tipo de censura. Esse evento nos mostra claramente o papel central e diferencial que um educador de formação e por vocação deve ter
naquele que é o seu espaço por excelência: a escola. Por isso continuamos a defender e empunhar a bandeira da luta contra a militarização das escolas brasileiras!
Brasília, 26 de novembro de 2021
Direção Executiva da CNT