Escrito por: CNTE
Para a senadora do PT de Pernambuco, até mesmo o governo federal está em disputa
Foto: Nando Chiappetta/Alepe
Senadora em primeiro mandato, a professora e sindicalista pernambucana está numa luta no Congresso para promover o debate com a sociedade sobre o impacto da nova grade curricular imposta aos adolescentes no país. Criado ainda no governo Temer, o chamado novo ensino médio vai aprofundar a desigualdade no país e está fadado a produzir cidadãos sem senso crítico
Projeto criado na gestão de Michel Temer, o Novo Ensino Médio é um dos assuntos mais polêmicos na educação brasileira. Já está em fase final de implantação, e ainda recebe muitas críticas de professores, estudantes e pesquisadores do setor.
A senadora Teresa Leitão (PT-PE), uma das críticas, aponta que o modelo só faz aumentar a desigualdade na educação brasileira. A revogação é urgente, afirma a senadora, mas defende que o processo de revogação não seja afobado. “É preciso que ele seja substituído por outro e isso tem que ser feito com muito debate na sociedade”, recomenda.
Professora e sindicalista, a pernambucana eleita para o seu primeiro mandato como senadora também foi deputada estadual e federal. Ela é a primeira mulher eleita para o Senado no estado de Pernambuco. Nesta entrevista à Focus Brasil, ela diz que a luta política no Congresso está acirrada, uma vez que há muitos conservadores e o alto o número de bolsonaristas. Na sua avaliação, até mesmo o governo federal está em disputa. “A responsabilidade é muito grande”, afirma.
Teresa faz aqui críticas a participação de entidades privadas na gestão pública, que cresceu demais sob as gestões de Michel Temer e Jair Bolsonaro. Entre uma de suas sugestões para a árdua tarefa e reconstruir o Brasil está a reativação dos conselhos populares. Leia os principais trechos da entrevista a seguir:
Focus Brasil — Quais são as críticas da senhora ao chamado Novo Ensino Médio, modelo adotado pelo Michel Temer no pós-golpe?
Teresa Leitão — É bom que se registre que, assim que Michel Temer lançou esse modelo, a bancada do PT entrou com um decreto legislativo para suspender os efeitos daquela reforma. Minha primeira crítica é porque o modelo esvazia e aligeira a abordagem curricular do ensino médio na medida em que retira ou diminui disciplinas de um conteúdo mais amplo, de um conteúdo com capacidade de atuar de uma melhor forma no senso crítico do estudante, na formação para a cidadania, no preparo para o ensino superior. Por conta disso, o novo ensino interfere na formação dos professores, visando, em médio prazo, uma substituição da atividade docente por plataformas. No Paraná, já estão em curso plataformas de substituição. O professor tem um plano de aula encaixotado, fechado, completo. E caberá aos alunos preencherem as fichas através de plataformas e aplicativos.
Esse modelo introduz conhecimentos empíricos, é verdade, e conhecimentos que se agregam muito à visão de intersetorialidade curricular. Chega à beira da bizarrice a criatividade em torno desses tais conhecimentos. O ponto central desses chamados é a abordagem para estudantes se tornarem mais abertos a utilizar computação. Por exemplo, o nome da disciplina é este mesmo: Abertura Para a Computação e o Projeto de Vida.
A meu ver, ‘projeto de vida’ não é uma disciplina, mas um tema subjacente como eixo e fio condutor de toda organização curricular. Mas eles dão como uma disciplina. E nesse ‘projeto de vida’ tem de tudo, desde “meu mundo pet” até a fazer brigadeiro, trabalhos manuais, coisas na linha de “reconhecer-se porque é pobre, só é pobre quem quer”. Toda aquela atividade cultural que a gente recomenda que seja trabalhada na escola, que é um espaço de enriquecimento cultural, é trazida de forma esparsa e eventual, porque também é permitida a utilização de mestres de notório saber. Nada contra, desde que não tome o lugar dos professores e que venham agregar e não segregar.
Como se vê, não é uma educação para formar cidadãos dirigentes nem cidadania ativa que interfira criticamente na transformação da sociedade. E, ao diminuir toda essa carga curricular, isso interfere na Base Nacional Comum Curricular, que vinha sendo feita a partir de experiências e com o olhar de especialistas das áreas, trazido das universidades, da academia para você conjugar a academia com o chão da escola. Isso foi cortado. A comissão foi toda desfeita por Temer e a Base Nacional Comum Curricular também se esvazia.
>> Leia a entrevista completa no Portal Focus Brasil - Perseu Abramo
(Focus Brasil, 26/03/2023)