Escrito por: CNTE

IEAL, CNTE e PROIFES, realizam o V Encontro do Movimento Pedagógico

Movimento que articula ações pela defesa da educação pública em toda América Latina



Movimento que articula ações pela defesa da educação pública em toda América Latina acontece em Curitiba-PR, em referência ao êxito da Campanha Internacional por Lula Livre. 

Teve início, nesta terça-feira, 3,  o V Encontro do Movimento Pedagógico Latino-americano realizado pela Internacional da Educação para América Latina (IEAL) com apoio e participação das entidades brasileiras afiliadas: a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e o PROIFES (Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico). A abertura foi marcada por uma grandiosa apresentação cultural da Orquestra de Música Popular Brasileira da UFPR (Universidade Federal do Paraná), que apresentou um espetáculo de alto valor simbólico que representa a própria valorização da educação pública.

“Hoje, nesse ato emocionante, damos as boas vindas aos 12 países presentes e aos mais de 500 participantes, e reafirmamos nosso compromisso de continuar lutando pelo direito de produzir cultura, de incentivar a ciência e de lembrar que a nossa terra não é plana”, saudou a professora Fátima Silva, Secretária Geral da CNTE e Vice-Presidenta da IEAL, fazendo referência ao movimento conservador “terraplanista” que tenta refutar conceitos comprovados pela ciência.

O ato político também contou com a participação de Sonia Alesso, Secretária Geral da CTERA da Argentina. “Lula livre é uma esperança para a América Latina e como povos latinoamericanos, mais que nunca, temos que garantir nossa presença nas ruas e sustentar a luta pedagógica pelo conhecimento. Essa luta contra o neoliberalismo e o fascismo vai exigir toda a nossa coragem para garantir a liberdade de nossos povos”, disse Sonia. “Força, América Latina! Força, professores e professoras! Viva a classe trabalhadora! Viva os trabalhadores e trabalhadoras em educação!”, saudou.

Em sua saudação, o professor Nilton Brandão, presidente do PROIFES, mencionou a importância de realizar o Encontro em Curitiba que foi a capital da resistência durante a prisão arbitrária do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Graças à nossa luta e a toda solidariedade internacional, podemos estar aqui unidos aos que querem construir uma sociedade melhor. Estaremos juntos na luta pelo FUNDEB, mas essa luta também passa pelos projetos que atacam a educação superior, que visam a privatização da educação buscando o fim da autonomia das universidades. É fundamental somar forças e nos levantarmos contra os ataques à educação”, reforçou Brandão.

Para Heleno Araújo, presidente da CNTE, este Encontro é instrumento de luta e organização para a categoria. Ele defendeu uma visão sistêmica para a educação das séries iniciais até a pós-graduação, com mais acesso dos cidadãos às escolas e às universidades públicas. “Temos que construir caminhos e alternativas coletivas, iluminados pelas idéias do patrono Paulo Freire. Viva a nossa luta, viva a classe trabalhadora! Seremos vitoriosos!”, conclamou. Heleno também fez uma referência solidária à luta dos educadores do Paraná que no dia de hoje tiveram mais um enfrentamento violento com a polícia truculenta do estado.

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Representando a CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), Raimundo Oliveira mencionou a importância de se debater a educação com companheiros e companheiras do mundo todo. “A educação é o viés para o mundo mais justo e para a sociedade melhor e igualitária que queremos”, disse ele.

A representante do FNPE (Fórum Nacional Popular da Educação), Andréa Gouveia, afirmou que, do ponto de vista da formação e dos desafios para a construção de uma carreira, é fundamental estar em sintonia com todas as organizações que estão construindo o Movimento Pedagógico, desde a base. “Não há democracia sem educação e não há educação se ela não for libertadora. Calar o Movimento Pedagógico Latino-americano é querer dominar o pensamento crítico e isso não devemos permitir”, defendeu Andréa.

O representante da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Tino Lourenço, frisou o protagonismo da educação na resistência aos avanços do neoliberalismo no Brasil e no mundo, razão pela qual ele acredita que o atual governo brasileiro elegeu a educação como o inimigo número um. “Nosso movimento e a luta permanente pelos direitos dos trabalhadores são a única forma de barrar o feminicídio, a xenofobia e o genocídio da juventude negra. Sigamos em luta por uma educação que ensine a pensar e não a obedecer”, disse. Lourenço também repudiou a violência do governo do Paraná contra os professores e o funcionalismo público do estado.

O convidado da UEN (Noruega), Rune Fimreite, defendeu a importância do Movimento Pedagógico para além da América Latina. “Me inspira muito esse caminho e objetivo comum que encontramos no Movimento Pedagógico para fortalecer a voz dos nossos professores e professoras. Estamos na linha de frente nessa luta por temas ameaçados pelo conservadorismo como os direitos humanos, os valores democráticos, o pensamento crítico, o agravamento da crise climática e a educação. Além disso, nos preocupam os processos de privatização e mercantilização, a violência, e a questão dos refugiados e dos povos indígenas. Paulo Freire dizia que a educação tem que ser libertadora, e acredito que a única forma de assegurar nossa liberdade está no Movimento Pedagógico”, explicou.

Vindo da Suécia, representando a organização LARARFORBUNDET, Joakim Olsson, falou sobre sua satisfação em acompanhar a evolução do Movimento Pedagógico. “Sempre é impressionante testemunhar esse trabalho gigante sendo desenvolvido. Poder apoiar financeiramente esse projeto recarrega as nossas baterias, e nos faz entender de uma vez por todas que devemos nos permitir sonhar e ter utopias”, disse Olssom.

O Vice-Presidente da Internacional da Educação (IE) e Secretário de Relações Internacionais da CNTE, Roberto Leão, lembrou que essa retomada do crescimento neoliberal é uma realidade no mundo inteiro. “O retrocesso civilizatório que vem com o neoliberalismo pode nos levar à barbárie. A ganância do capital cria excluídos, pois não existe compromisso social do capital com a classe trabalhadora. O caminho da luta está nas ruas, não nos esqueçamos dele!”, provocou. Ele ainda fez um apelo para que os educadores e educadoras latino-americanos continuem defendendo a escola como um espaço privilegiado de debate das problemáticas de cada país e pediu coragem e determinação para reverter a realidade nefasta que insiste em se instalar no Brasil.

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A palestra inaugural do Encontro foi proferida pelo doutor José Batista Neto. Ele é mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco e doutor em Ciências da Educação pela Universidade Paris V (René Descartes). Como membro do Centro Paulo Freire Estudos e Pesquisas ele fez uma explanação sobre a importância de resgatar os valores dos pensamentos do patrono da educação para atravessar a conjuntura.

“A educação não será nunca um ato individual, só pode ser construída na coletividade, é um processo social e, portanto, de construção solidária que tem a humanização como perspectiva”, enfatizou.

Paulo Freire sempre defendeu a educação como direito social de todo ser humano, numa construção afetiva, e o professor José Batista chama a atenção para a necessidade de permear a construção da própria democracia com essa lógica, para chegar a uma “educação libertária esperançosa”.

Ele finalizou sua contribuição com o Encontro dizendo que, em sua visão, a relação educativa humanizada é uma verdade que precisa ser reafirmada no Brasil e em toda a América Latina para retomarmos os rumos da justiça social e da solidariedade entre os povos.

O V Encontro do Movimento Pedagógico Latino-americano hoje com Análise de Conjuntura e painel sobre os desafios das organizações sindicais no recorte das políticas educacionais dos países

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Texto: Jordana Mercado  Fotos:Joka Madruga