Escrito por: CNTE
Aos 4 anos, a mineira Carolina Rossetti ganhou uma caixa de lápis de cor dos pais. O presente não poderia ser mais adequado: ela cresceu e virou ilustradora. Carol estudou design gráfico e hoje concilia trabalhos autorais com o estúdio Café com Chocolate Design e o coletivo ZiNas, que reúne 7 artistas em torno de temáticas feministas.
Despretensiosa, queria praticar sua técnica com lápis de cor, tocando em temas que valessem a pena, mas acabou conquistando mais de 300 mil seguidores em uma rede social. Em 2014, seus desenhos foram notícia até na CNN, com a chamada: ‘This is Carol. Her illustrations are reimagining how we see women’. Esta é Carol. Suas ilustrações estão mudando a forma de vermos as mulheres.
O reconhecimento tem um bom motivo. Com o projeto Mulheres, Carol colocou em evidência situações desanimadoras que as mulheres sofrem todos os dias. O resgate de auto-estima é feito em tom de conselhos amigos: “Eu sempre convivi com uma série de pequenas restrições cotidianas sobre meu corpo e depois de um tempo isso começou a me incomodar. Esse controle é tão parte da nossa cultura que nem sempre nos damos conta de como ele é cruel e do quanto restringe nossas escolhas pessoais”.
Mas não basta discutir questões que afetam um grupo específico de mulheres, ela diz. “Partindo do princípio que todo nós somos muito influenciados, as referências que existem na mídia, por exemplo, ajudam a moldar todas as nossas noções do que é bom ou ruim. Por isso, precisamos ter uma representação bem mais ampla para as pessoas acreditarem nelas mesmas. Quando só mostram como legais as pessoas brancas, jovens e magras na tv, isso passa uma mensagem errada de valores.
É preciso também falar de racismo, homofobia, bifobia, transfobia, elitismo, xenofobia, opressão contra pessoas com deficiências físicas. A luta por igualdade e respeito émuito ampla e deve ser inclusiva. Uma coisa que eu vi com meu trabalho é que as pessoas precisam e ficam muito felizes quando elas se vêem, se sentem representadas”, explica Carol.
Ela também inverte a lógica do que seria o tema óbvio de uma ilustração: “A inclusividade não é retratar a pessoa negra sempre que você falar de racismo, é perceber que são seres humanos complexos, que vivem diversas situações que não tem a ver com a sua negritude. Por exemplo, a ilustração sobre uma mulher alta e a dúvida de usar salto é uma experiência vivida por mulheres de qualquer etnia; ou quando eu desenho uma personagem com deficiência física, não preciso falar sobre a deficiência. Elas são mais do que isso”.
Nem todas as situações desenhadas são vividas exclusivamente por mulheres: são problemas universais. Com tanta gente se identificando com a proposta (já traduzida para inglês, espanhol, russo, alemão e italiano), ela saiu da Internet e virou livro, que inclui textos sobre os temas centrais das ilustrações, como corpo, estilo, identidade, relacionamentos e superação. Os direitos da obra “Mulheres - Retratos de Respeito, Amor-Próprio, Direitos e Dignidade”, com cerca de 130 imagens, já foram vendidos para Estados Unidos, Espanha, Portugal e México.
Agora, Carol trabalha em um novo projeto, voltado para o público infantil, mas que também atinge gente de todas as idades. Em Cores, ela explora a questão do gênero: “O tema é tratado de um jeito leve, mas eu falo dos padrões de gênero a partir do universo das crianças, em uma tentativa de questionar estereótipos e desconstruir padrões limitadores no desenvolvimento social das pessoas”.