Escrito por: CNTE
Na manhã do dia 11 de março, estudantes do Centro Estadual de Educação Profissional Pedro Boaretto Neto, de Cascavel, se recusaram a assistir às aulas dos cursos técnicos implantados na esteira do Novo Ensino Médio. Levaram seus cadernos e materiais de estudo para o refeitório e lá permaneceram.O que parecia um ato de rebeldia isolado no oeste paranaense se espalhou pel...
Na manhã do dia 11 de março, estudantes do Centro Estadual de Educação Profissional Pedro Boaretto Neto, de Cascavel, se recusaram a assistir às aulas dos cursos técnicos implantados na esteira do Novo Ensino Médio. Levaram seus cadernos e materiais de estudo para o refeitório e lá permaneceram.
O que parecia um ato de rebeldia isolado no oeste paranaense se espalhou pelo estado feito rastilho de pólvora. Em poucas semanas, protestos de secundaristas apoiados pelos pais e mães começaram a ser registrados em todas as regiões do estado. A APP-Sindicato mapeou ao menos 16 escolas em pé de guerra até o fim de março.
A onda de indignação é uma resposta espontânea do alunado à política de terceirização do governo Ratinho Jr. e do secretário Renato Feder. Em três disciplinas do ensino profissionalizante, o Estado substituiu professores(as) da rede por aulas a distância ministradas pela Unicesumar, um dos maiores grupos educacionais privados do país.
No modelo, alunos(as) passam seis períodos – mais de cinco horas – apinhados em sala de aula assistindo a uma TV. Na tela, um(a) professor(a) da Unicesumar ministra aulas a dezenas de turmas ao mesmo tempo, sem interação direta com os(as) educandos(as).
A “mediação” é realizada por monitores(as) com formação de Ensino Médio e nenhuma capacitação pedagógica. Estes(as) trabalhadores(as) precarizados(as) recebem bolsa-auxílio de R$ 640 por mês para 20h.
Desde o início de fevereiro a APP-Sindicato denuncia a farsa televisionada, um sumidouro de dinheiro público que desrespeita professores(as) e a comunidade escolar, precariza a educação e só beneficia a Unicesumar, que arrematou R$ 38,4 milhões para prestar o desserviço.
“TV eu tenho em casa, queremos professor!”
Com atos dentro e fora da escola, mobilização exemplar nas redes sociais, abaixo-assinado, pressão sobre políticos(as) e autoridades e a cobertura da mídia local, a experiência de Cascavel dobrou o governo Ratinho. A Secretaria da Educação se viu forçada a volta atrás para estancar o incêndio, mas apenas no CEEP.
No resto do estado, o modelo não foi revogado e ainda há 445 escolas reféns da gambiarra pedagógica. Mas o governo está acuado com a mobilização crescente em outras escolas e tenta agir para calar as manifestações, ameaçando educadores(as) e direções que apoiam os atos e censurando a participação de estudantes em audiências.
A criatividade dos(as) estudantes é estampada nos cartazes e palavras de ordem que se espalham pelas escolas do Paraná. Dizeres como “TV eu tenho em casa, queremos professor” e “Educação não é enganação”, contas no instagram para cada escola mobilizada, vídeos de tiktok e outras estratégias inspiram a luta e motivam novas escolas a aderir.
Dupla privatização
Em matéria publicada pela Agência Estadual de Notícias em janeiro, a Secretaria da Educação afirma que “a parceria se deve à dificuldade de encontrar profissionais habilitados para trabalhar os componentes específicos desses cursos técnicos”. Contudo, a mentira tem perna curta.
Desde 2019, professores(as) do colégio Antonio Francisco Lisboa, de Sarandi trabalharam para criar o curso técnico de Desenvolvimento de Sistemas, que substituiu o curso de Informática na nova matriz do Ensino Médio. Três anos dedicados a estudar, formular e implementar o currículo, incluindo consultas a universidades e empresas locais.
Quando chegou a distribuição de aulas, os(as) educadores(as) descobriram que foram usados pelo Estado. O golpe é resumido por uma professora QPM de outra cidade, cuja mensagem reproduzimos abaixo omitindo informações a pedido da fonte.
A Unicesumar privatizou a tecnologia de ensino desenvolvida por quem está em plenas condições de ministrar as aulas e recebe salários para tanto. Pior: nada garante que a universidade não utilizará a ementa elaborada pelos educadores(as) do Estado para lucrar vendendo cursos próprios.
Trata-se de um duplo desvio; o Estado entrega à iniciativa privada não apenas recursos financeiros dos cofres públicos, mas também a produção intelectual de servidores(as).
A terceirização da mão de obra na educação já se mostrou negativa no Paraná, quando em 2021 o Governo demitiu 9.700 funcionários(as) de escola e contratou 13 empresas para “fornecer” trabalhadores(as).
O resultado foi que o número de funcionários(as) de escola diminuiu, prejudicando a qualidade do serviço oferecido, e o gasto do Governo aumentou em R$ 10 milhões por ano. O gasto total chegou a R$ 422,796 milhões em 2021; quase meio bilhão de reais.
A farra das terceirizações também tem gerado problemas crônicos, como calotes em trabalhadores(as) e funcionários(as) recebendo menos de um salário mínimo.
APP-Sindicato trabalha para reverter o processo de terceirização em ambas em frentes e saúda a mobilização das comunidades escolares.
Como dizem os(as) estudantes, quem não luta pelo que quer aceita o que vier!
Confira as escolas mobilizadas e fortaleça a luta seguindo as redes sociais criadas pelos(as) estudantes:
Barracão
Colégio Estadual Dr. Mário Augusto Teixeira de Freitas
Cascavel
CEEP Pedro Boaretto
@naoas_aulaseadunicesumar
Corbélia
Colégio Amâncio Moro
@naoaasaulasdaunicesumar
Coronel Vivida
Colégio Estadual Arnaldo Busato
@fora_unicesumar_ceab
Curitiba
Colégio Pedro Macedo
@foraunicesumar_
Colégio Avelino Antonio Vieira
@nao.queremos+aulasdaunicesumar
Dois Vizinhos
Colégio Estadual Leonardo Da Vinci
@naoas_aulaseadunicesumardv
Francisco Beltrão
Colégio Estadual Mário de Andrade
@naoas_aulaseadunicesumarfb
Lapa
Colégio Agrícola
@naoasaulassincronasnoceepal
Laranjeiras do Sul
CEEP Naiana Babaresco de Souza
Londrina
Colégio Estadual Souza Naves
@nãoasaulasead_2022
Medianeira
Colégio Estadual João Manoel Mondrone
@fora.aulas.online
Palotina
Colégio Santo Agostinho
Pato Branco
Colégio Estadual Carlos Gomes
Ponta Grossa
Colégio Presidente Kennedy
@naoa.saulaseadcepk
(APP/Sindicato, 31/03/2022)