Escrito por: CNTE
Cada vez mais mulheres estão optando por ter o primeiro filho quando a vida está com contornos de maior estabilidade
“A decisão foi esperar a vida ficar mais tranquila financeiramente. Com estabilidade para oferecer uma vida melhor para ela”, explica Lívia Cerezoli, jornalista e futura mãe da Tereza. Casada há quase cinco anos com Rodrigo Antônio de Souza, biólogo, 35 anos, ela tem 34 anos e está no oitavo mês da gravidez.
Lívia faz parte de uma estatística que tem se tornado tendência no Brasil. Para muitas crianças, a vida tem começado aos trinta anos de suas mães. A pesquisa “Saúde Brasil”, divulgada pelo Ministério da Saúde constatou que o índice de brasileiras com esse perfil passou de 22,5%, em 2000, para 30,2%, em 2012.
Em contrapartida, a quantidade de jovens que engravidam antes dos 19 caiu de 23,5% para 19,3%. O levantamento também mostra que houve redução de 13,3% no total de nascimentos no País no período analisado e que, desde 2005, a taxa de fecundidade está abaixo à de reposição populacional. Isso indica uma tendência de redução da população no futuro.
O estudo detecta ainda que o novo perfil está atrelado à taxa de escolaridade. Quanto mais anos de estudo, mais tardia é a opção pela maternidade. Das mulheres entrevistadas no levantamento com 12 anos ou mais de estudos, 45,1% esperaram completar três décadas de vida para engravidar.
O projeto de ter o filho já estava nos planos de Lívia e Rodrigo, mas a opção por esperar teve relação com o investimento na qualificação profissional do casal.
“A gente achou melhor esperar porque não tinha casa própria ainda e o Rodrigo estava fazendo Doutorado, o que levou quatro anos. Eu fiz também a minha pós-graduação. Acho que agora é o momento certo. Compramos o nosso apartamento e estamos numa fase de maior estabilidade na vida”, alegra-se.
Para a medicina, as mulheres com idade acima de 35 anos são consideradas de alto risco. Mas, isso, segundo o médico ginecologista e obstetra, Petrus Sanchez, somente se for adotada a definição antiga. “Hoje em dia a gente releva um pouco isso porque senão teríamos de rotular todas essas pacientes como de alto risco”, explica.
Tendência
Ele, que tem consultório em Brasília, numa região de classe média alta, em 2014, fez 156 partos, sendo 56 pacientes, ou 36%, com 35 anos ou mais. O médico comprova na prática
o que a pesquisa indica, quando constata que a gravidez tardia está relacionada ao grau de instrução das mulheres e acrescenta: “Está muito associado também com o momento profissional, com a segunda e terceira jornada de trabalho. Onde a questão da maternidade fica para um segundo plano”, diz. Ele conta que, há dez anos, o perfil de suas pacientes era bem mais jovem.
O Brasil segue, na verdade, uma tendência observada em países desenvolvidos, com a inserção ainda mais forte da mulher no mercado de trabalho e mais acesso aos métodos anticoncepcionais. “Com isso, ela planeja melhor sua gravidez“, explicou a Diretora do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas do Ministério da Saúde, Thereza de
Lamare.
Segundo dados do Ministério da Saúde, as regiões Sudeste e Sul concentram maior quantidade de mães com 30 anos de idade, 34,6% e 33,6%, respectivamente. No Centro-Oeste a taxa foi de 28,8%, seguido do Nordeste com 26,1% e o Norte com 21,2%.
Para ver as imagens, acesse o arquivo em PDF da Revista Mátria 2015