Escrito por: Gilmar Soares / Sintep-MT
O senso comum é achar que ganhar dinheiro é fácil e não precisam mais estudar
É estarrecedor o que está acontecendo em sala de aula, por hora, mais no ensino médio, mas já há sinais de que o dito jogo online já é usado também por alunos do Ensino Fundamental: os alunos, em sua maioria os meninos e rapazes não querem mais estudar e, de posse de um celular e internet na escola, estão jogando um jogo chamado no popular “tigrinho”.
O jogo é uma espécie de roleta de números, tem a princípio possibilitado ganhar dinheiro fácil. Como professor de escola de periferia em Várzea Grande, presenciei em sala de aula conversas entre alunos, em que eles afirmavam que estavam mantendo um saldo positivo diário de na média R$ 400,00
A depender de comparação, ter um saldo diário desses, resultado de um jogo, é uma “vantagem” significativa e altamente preocupante diante da realidade financeira, que não é alcançada pela maioria da população.
Tal realidade está mexendo com a cabeça dos nossos estudantes, principalmente os meninos, que, se já tinham dificuldades em se concentrar para a aprendizagem, agora já não querem saber de forma alguma de estudar.
A mudança comportamental é drástica e geradora de muitos CONFLITOS NA ESCOLA, pois é agravada com a certeza dos estudantes de que não serão reprovados, pois a prática pós-pandemia da Seduc/MT tem sido alterar registros de notas nos diários eletrônicos dos professores para assegurar a aprovação automática de alunos que não querem estudar. Muitos alunos percebendo essa política de aprovação da Seduc/MT, até evadem deliberadamente da escola, para depois, se valer da busca ativa e assim, driblar a carga de trabalho dos estudos.
A notícia publicada pelo site GGN do jornalista Luís Nassif me chamou a atenção porque o jogo popularmente chamado de “tigrinho” não poderia ser apenas uma preocupação do Ministério da Fazenda que de fato vê o país ser dominado pela jogatina online sem pagar o devido imposto, mas sim, precisa ser uma preocupação urgente das gestões das escolas, das famílias, da Seduc, do CEE- Estadual de Educação, da Assembleia Legislativa e do MINISTÉRIO PÚBLICO.
Também o senhor governador precisa repensar sua figura de youtuber, ao se gabar por oferecer estrutura de escola particular e militarizada para a população, quando a política educacional terceirizada e privatizada só pensa na educação dos adolescentes e jovens como mercadoria, objeto de lucro para empresários. O governo de Mato Grosso tem sido incapaz de debater com a sociedade, os verdadeiros problemas da educação: um desastre para as humanidades no interior das escolas.
Fato é que, o “tigrinho” apenas amplia os problemas da jogatina no interior da escola, uma vez que os chamados Bets (jogos online, que inclusive patrocinam os times de futebol no Brasil), já vinham desviando o do foco dos estudantes. Com o tigrinho, o problema apenas se agravou.
Fica muito desesperador para quem é professor, como eu, em sala de aula e necessita da curiosidade epistemológica dos alunos para debater o conhecimento. Quando o dinheiro domina nossas mentes, não abrimos espaços para a razão e é aqui a minha preocupação sobre a mentalidade dos alunos viciados nos jogos eletrônicos. Nossos alunos estão expostos à ideia de que num jogo de azar podem “ganhar dinheiro fácil”.
Como não existe dinheiro fácil, todo jogo é jogo, e o pior é quando é um jogo de azar, o preço a ser pago será muito alto, com o risco do preço ser seu próprio projeto de vida.
O papel do tigrinho é viciar nossos meninos e, porque não, meninas, a pensarem que jogando poderão ganhar dinheiro fácil, até o dia em que apostarão tudo que têm disponível de renda e posse e serão derrotados pela máquina, pelo logarítimo. Volto ao tema deste artigo com o coração apertado: SOCORRO MINHA GENTE: o tigrinho está transformando alunos em tigrões do achar que ganhar dinheiro é fácil e não precisam mais estudar!
Gilmar Soares Ferreira é Professor efetivo da Rede Estadual de Mato Grosso e também diretor do Sintep-MT, atualmente aluno de Mestrado em Educação Inclusiva pelo PROFEI/UNESP/UNEMAT