Escrito por: CNTE

Solidariedade - Solidariedade na pandemia: campanhas ajudam quem mais precisa

Os longos meses de pandemia descontrolada da Covid-19 evidenciaram as desigualdades da sociedade em que vivemos. A solidariedade, no entanto, marcou ações de entidades e pessoas que buscaram ajudar quem mais necessitava.

O Movimento Sem Terra (MST), por exemplo, por meio de seus projetos de agricultura familiar, atrelados à Reforma Agrária Popular, reforçou seu papel no combate à fome e
a desigualdade. Foram doadas mais de 4 mil toneladas de alimentos em sua campanha nacional de entrega de produtos oriundos dos acampamentos e assentamentos da reforma
agrária, para famílias urbanas em situação de vulnerabilidade.

As ações já aconteceram em 24 estados do país: Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Pará, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins.

"As doações são ações diretas de diálogo entre o povo do campo e da cidade. Toda vez que ocorre uma doação da Reforma Agrária, chega na mesa de um brasileiro um alimento
contra a fome e a desigualdade social pelas quais o Brasil sempre passou, mas que se intensificou agora nesse período de pandemia", explica Kelli Mafort, da direção nacional do MST.

As doações se tornam ainda mais importantes quando dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) mostram que 37,5 milhões de pessoas
viviam uma situação de insegurança alimentar moderada no Brasil entreos anos de 2014 e 2016. Entre 2017 e 2019, porém, esse número chegou a 43,1 milhões. Segundo dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2020 foram contabilizadas 10,3 milhões de pessoas sem acesso regular à alimentação básica no Brasil. Outras 14,1 milhões estão desempregadas.

O trabalho de doação de alimentos vai desde o que é produzido na lavoura, como legumes, verduras, frutas e hortaliças; até a entrega de marmitas com refeições prontas, equipamentos de proteção individual, produtos de higiene e livros.

As marmitas são, preferencialmente, entregues às pessoas em situação de rua e aos entregadores de aplicativos. Segundo o MST, quinze hortas comunitárias foram iniciadas em
acampamentos, ao longo de 2020, para fortalecer as doações.

Ação contra despejos
Outro trabalho fortalecido durante a pandemia foi o de ações contra o despejo de pessoas em vulnerabilidade. Sem emprego e com dificuldade para recebimento do auxílio emergencial, muitas famílias tiveram dificuldade em pagar o aluguel.

A Campanha Nacional #DespejoZero, em defesa da vida no campo e na cidade, foi um dos principais movimentos nessa área. A campanha teve como objetivo principal a suspensão dos despejos ou remoções de famílias e comunidades urbanas ou rurais, independentemente de sua origem: iniciativa privada ou pública, respaldada em decisão judicial ou administrativa.

Segundo dados da Campanha Despejo Zero, entre março e agosto de 2020, ao menos 6.500 famílias foram despejadas de suas casas e outras 20.000 famílias encontram-se ameaçadas de serem removidas a qualquer momento. São processos que não foram iniciados com a pandemia da Covid-19 e também não serão encerrados com o fim dela. O
déficit habitacional no Brasil hoje é superior a 7.8 milhões de moradias.

Em Alagoas, as 150 famílias ameaçadas de despejo do acampamento Marielle Vive, em Atalaia, Zona da Mata do estado se uniram para integrar o movimento anti-despejo com o de doação de alimentos. Eles doaram uma série de alimentos produzidos no acampamento para as famílias do município. Só em Alagoas, foram cerca de 50 toneladas de produtos produzidos no campo e distribuídas a quem precisa.

Além do MST, aderiram à campanha o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a Confederação Nacional das Associações de Moradores, a Central dos Movimentos Populares (CMP), a União dos Movimento de Moradia (UMN) e o Movimento

Apoio no campo e na floresta

A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) também atuou para minimizar os efeitos da pandemia com diversas ações. Logo no início do isolamento social, em 2020, foi lançada a campanha Fique em Casa, Fique na Roça, que levou informações para agricultores e agricultoras, orientações para evitar a contaminação e a transmissão da
COVID-19. "Também abrimos um contato, via WhatsApp, para que os agricultores pudessem pedir por auxílio diretamente a nós", explica a secretária de Políticas Sociais da
Contag, Edjane Rodrigues.

Ao longo de 2020, como parte da campanha, ainda foi realizada uma série de lives para debater e esclarecer os temas relacionados ao novo coronavírus. Outra ação foi a campanha Campo Conectado pelo bem, que teve foco no apoio às famílias com dificuldades financeiras ou de saúde, em função da COVID-19. "A gente sabe que aumentou muito a questão
da ansiedade e da insegurança, nesse cenário. Por isso nos preocupamos, não só com o lado econômico, mas o mental", explica Edjane.

A campanha foi dividida em quatro ações: mapeamento dos casos de coronavírus no campo; construção de rede de apoio, com profissionais da Saúde ligados ao movimento sindical, para ajudar na saúde mental dos agricultores e agricultoras que estão sofrendo o impacto direto e indireto referente à COVID-19; apoio de costureiras e artesãs voluntárias, para a produção de modelos de máscara de alta proteção e realização de campanha nacional de arrecadação de cestas básicas de alimentos e material de higiene, para famílias vulneráveis
do campo, da floresta e ribeirinhas.

Além de ajudar, a campanha trouxe capacitação – iniciada em outubro de 2020 e encerramento em abril de 2021 – com a oferta de um curso de formação de multiplicadores em práticas integrativas e complementares em saúde. Participam pessoas dos sindicatos, federações e entidades parceiras. "Nosso principal parceiro é a Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), mas também contamos com a Confederação Nacional dos Agentes Comunitários de Saúde (Conacs), a Associação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular e Saúde (Aneps), a Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares e o Movimento SUS nas Ruas", elenca a secretária.

Por fim, a Contag, neste 2021, se soma à campanha pela vacinação universal e para todos e todas. "Temos realizado rodas de conversa sobre a situação da vacinação no país. Principalmente, para conscientizar sobre a importância da vacinação, que é mais necessária quando temos um governo negacionista, e esclarecer dúvidas sobre a capacidade de imunização", finaliza Edjane.

>> Acesse o arquivo digital (em PDF) da revista Mátria 2021