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Vereadora de Sinop (MT) é alvo de ameaças de grupos políticos locais

Graciele Marques dos Santos denuncia a violência contra as mulheres no meio político

Publicado: 04 Junho, 2021 - 11h11

Escrito por: CNTE

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Foto: Câmara de Vereadores de Sinop (MT)

No dia 25 de maio, mensagens contrárias ao presidente Jair Bolsonaro foram exibidas em outdoors no município de Sinop (MT). O texto das produções dizia respeito à atuação do presidente diante da pandemia do novo coronavírus e suas consequências. Assinados por entidades sindicais e de militância política, as produções despertaram reações de depredação por parte de grupos agrários bolsonaristas locais, que chegaram a cortar um dos painéis com uma serra elétrica, como relata a vereadora Graciele Marques dos Santos (PT).

A também professora, representante do Partido dos Trabalhadores, passou a ser atacada por esses grupos por intermédio das redes sociais, especialmente no WhatsApp. Sendo rotulada como “vagabunda”, “esquerdalha” e outros nomes de baixo calão, a parlamentar diz acreditar que a reação dessas pessoas tenha raízes misóginas, visto que é a única mulher representante da Câmara de Vereadores de Sinop nesta legislatura.

Vale destacar que a vereadora foi uma das únicas responsabilizadas pelos outdoors por esses grupos, sendo que participou da movimentação de maneira indireta, por ser integrante de diferentes instituições envolvidas. De acordo com seu relato, chegaram a acusá-la inclusive de ter investido dinheiro público em tal ação, insinuando que seja corrupta. “A única de esquerda, sempre estou nas manifestações. Então, talvez isso seja um ponto”, comenta Graciele sobre o que pode ter sido a motivação dessa onda de ataques.

Esse tipo de atitude é um exemplo de como o machismo age no meio ideológico e político, culpabilizando mulheres e as colocando em posições de subalternidade. Graciele conta que, em seus cinco meses de atuação, chegou a vivenciar outras formas de violência por ser mulher. “Estou no primeiro mandato, mas na militância sindical e estudantil já passei por várias situações e, sendo vereadora, já passei por outras”, revela. “Por exemplo, em determinado projeto que vários vereadores votaram contra ou votaram a favor, eles focaram a crítica só em mim. Isso já aconteceu diversas vezes”, completa a vereadora.

Com relação aos outdoors, Graciele conta que o dono da empresa chegou a ser coagido para retirá-los, tendo sofrido ameaças por parte desses mesmos grupos locais que a atacaram. A vereadora diz já ter tomado medidas legais contra eles, como o registro de Boletim de Ocorrência. “A gente ainda precisa ser ouvido por um escrivão e vamos (sic) seguir com a denúncia no Ministério Público”, declara. Para ela, é necessário que essas pessoas sejam responsabilizadas, pois a punição pode levá-las a perceber que existem consequências aos seus atos.

Acolhimento e Luta

Embora o ódio direcionado à Graciele tenha sido em larga escala, fazendo inclusive com que a vereadora sentisse medo de levar seu cotidiano normalmente, após ter sido ameaçada, ela diz que o acolhimento também veio. “Nós tivemos muitas mensagens de pessoas dizendo que admiravam a ação, que se sentiram representadas e também acreditam que Sinop tem que ter o direito do contraditório. Muitas pessoas se reconheceram naquela atitude”, comenta em relação a colocação dos outdoors.

Segundo a vereadora, a mudança a ser feita para que casos assim não se repitam requer uma ação continuada. “Nós temos pensado, por aqui, em nos fortalecer enquanto coletivo, enquanto entidades sindicais, para que a gente consiga cada vez mais sensibilizar as pessoas para a necessidade de mudar de postura em relação à mulher, em relação à participação da mulher nos espaços de militância e de poder”, enfatiza. “Penso que a gente vai ter que se organizar mesmo, fortalecer”, complementa Graciele.