Dirigente da CNTE alerta sobre tempos difíceis para a educação em São Paulo com o secretário Renato Feder
Ministério Público Estadual foi acionado para apurar conflito de interesses do secretário de educação
Publicado: 06 Janeiro, 2023 - 19h19
Escrito por: CNTE
Foto: Reprodução/Youtube
O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo, criticou o setor empresarial, do qual faz parte o recém-empossado secretário estadual de Educação de São Paulo, Renato Feder, e que já instaurou mais uma crise na gestão do seu padrinho político, o ex-ministro de Bolsonaro, Tarcísio de Freitas (PL).
Segundo o dirigente, o empresariado quer tomar conta da educação brasileira com a visão de padronizar todas as ações de educação no mundo no Brasil, e fez uma alerta: “a população e os profissionais da educação em São Paulo vão viver tempos difíceis com o secretário empresário”.
“Essa transferência do secretário do Paraná para São Paulo tem essa característica de padronização como se tudo pudesse ser feito do mesmo jeito, e em qualquer lugar. Isso não funciona assim”, critica Heleno.
Feder é acusado de manter, via offshore, ações de uma empresa contratada pela educação, segundo o site Metrópoles. O secretário, de acordo com a reportagem, é um dos sócios da Dragon Gem LLC, empresa com sede no estado de Delaware (EUA), conhecido como paraíso fiscal, e mantém o controle de 28% da Multilaser Industrial S/A e é importante fornecedora de equipamentos de informática do governo estadual.
“O terceiro setor empresarial quer tomar conta da Educação brasileira com a intenção de padronizar a visão privatista que há no mundo. Neste caso, um gestor público eleito não abriu mão do setor privado, inclusive vende produtos da sua área, do setor privado, pagos com dinheiro público. Isso com certeza já agregou ao seu patrimônio mais do que tinha antes de ser secretário”, afirmou Heleno.
Ainda segundo o site Metrópoles, a menos de dez dias da posse de Feder como secretário da Educação, ocorrida no último domingo (1º/1), a secretaria assinou três novos contratos com a Multilaser, no valor de R$ 200 milhões, para compra de notebooks educacionais para as escolas estaduais e de aparelhos de celular para professores e alunos.
Os contratos preveem o fornecimento de quase 97 mil computadores e estabelecem que a empresa dará garantia e manutenção às peças por um ano, até dezembro de 2023. Desta forma, caberá à secretaria comandada por Feder fiscalizar a execução dos contratos com a empresa da qual ele é acionista e de suas concorrentes.
“É um prejuízo enorme para educação além da concepção da educação, que foge totalmente do que defendemos”, ressalta Heleno.
Não é a primeira crise
Já não é a primeira polêmica do secretário de educação em tão pouco tempo de gestão. Nesta semana, mais de 2 mil professores/as da rede estadual de ensino de São Paulo protestaram, em frente à Secretaria de Educação do Governo do Estado, no centro da capital paulista, contra o processo de atribuição de aulas para o ano letivo de 2023.
“É uma lambança em relação a distribuição de aula, que é uma característica de São Paulo, desconhecida e não aplicada em outros estados. Quando a pessoa não conhece a realidade, provoca mudanças, provoca problema. É o que aconteceu com Feder”, finaliza Heleno.
Psol pede investigação
O deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) pedirá ao Ministério Público Estadual (MPE) a exoneração do secretário de Educação de São Paulo, Renato Feder, por conflito de interesse. Segundo Giannazi, a empresa de Feder, a Multilaser, tem contratos milionários com o governo de São Paulo, mas o secretário disse que tinha se afastado da empresa.
“Com a descoberta de que ele mantém em paraíso fiscal uma empresa que é controladora da Multilaser, ele passa a ser mentiroso e não reúne condições para se manter no cargo. Nós provocaremos o Ministério Público e pediremos a exoneração do Feder. Ele já começou a gestão mentindo e agindo de má-fé”, afirmou o parlamentar.
Segundo a deputada estadual Thainara Faria (PT), há constatação de incongruência entre a declaração dada pelo secretário e a realidade, “fazendo-se necessário o esclarecimento diante do evidente conflito de interesses e resolução deste impasse que pode ser danoso a todo povo do Estado de São Paulo. É fundamental que Feder se explique”.