Acesso a óculos aumentaria renda de crianças em até R$ 300 mil, revela pesquisa
Estudo avalia os impactos, a longo prazo, na vida de estudantes que possuem dificuldade na aprendizagem por problemas de visão não corrigidos
Publicado: 04 Novembro, 2024 - 14h47
Escrito por: Redação CNTE
As perdas de aprendizagem associadas a problemas de visão têm se mostrado um problema ainda mais complexo no desenvolvimento dos estudantes. Uma pesquisa realizada pela Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira (IAPB) e pela Fundação Seva revela que o acesso a óculos na infância poderia aumentar os ganhos dos alunos em até R$ 296,5 mil ao longo de sua vida adulta.
A pesquisa tem como base os dados do Global Burden of Disease (GBD), que estima que pelo menos 800 mil crianças brasileiras vivem com problemas oftalmológicos não corrigidos, como miopia e hipermetropia, além de uma pesquisa chinesa, que mostra a diferença positiva no desempenho de alunos que possuem acesso a óculos em teste de matemática, ciências e chinês, comparado aos que não enxergam adequadamente.
O diretor-executivo da IAPB no Reino Unido, Peter Holland, explica que “a pesquisa indica que o resultado obtido por crianças sem óculos é metade do registrado por crianças com boa visão, o que significa que elas aprendem metade do que seus colegas.”
As consequências da ausência de óculos foram convertidas em anos de escolaridade perdidos, isto é, o tempo em que o aprendizado ficou abaixo do desejado. Em seguida, os pesquisadores relacionaram os dados de escolaridade à expectativa de renda, levando em conta para cada ano de aprendizado completo um incremento de 10% nos rendimentos futuros.
Como resultado, a pesquisa constatou que, se uma criança brasileira de 5 anos recebe óculos para correção de grau no início da sua vida escolar e o utiliza até seus 18 anos, ela terá ao longo da sua vida uma renda, em média, 78,1% maior do que se nunca tivesse corrigido e melhorado o seu aprendizado.
Para Peter Holland, a diminuição do aprendizado dos estudantes afeta não somente as famílias de forma individual, mas também tem um efeito cumulativo nas economias. O diretor-executivo avalia que apontar a dimensão do problema é uma forma de reunir esforços para corrigir a falta de acesso a óculos no país.
Desafios
Até que seja feito o diagnóstico dos problemas de visão e a prescrição dos óculos para os estudantes, os pesquisadores apontam desafios que precisam ser superados. Entre eles estão o acesso aos cuidados oculares e a atenção ao tema no sistema educacional como um todo. "Em regiões com acesso limitado a serviços de saúde, garantir a adesão e o uso consistente dos óculos pode ser mais desafiador", afirma Peter Holland.
Outra lacuna - a do teste do reflexo Vermelho (TVR) ou “Teste do Olhinho” - também precisa ser superada antes mesmo da criança ingressar na escola. Nem todos os recém-nascidos realizam o teste na maternidade, e nem passam por exames oftalmológicos nos primeiros anos de vida, como recomenda a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), para a detecção precoce de problemas oculares.
Projetos e iniciativas
Em 2023, pesquisadores reunidos no 1º Fórum da Câmara Técnica de Oftalmologia do Conselho Federal de Medicina (CFM) lançaram a “Carta pela saúde ocular das crianças brasileiras”. Entre outras recomendações, o documento defende a ampliação da rede de assistência oftalmológica na atenção básica e a garantia de realização nas maternidades.
No Senado Federal, tramita, desde maio de 2023, uma proposta para alterar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), assegurando o direito dos alunos da educação básica à assistência oftalmológica e auditiva. O PL n.º 2695/2023 chegou a ser aprovado em outubro do mesmo ano na Comissão de Educação (CE), e aguarda atualmente a análise de outras comissões antes de seguir para votação.
Na época, a secretária de assuntos educacionais da CNTE, Guelda Andrade, salientou a importância da assistência aos estudantes, dado os impactos que a falta de aparelhos auditivos e óculos causa na vida e no desempenho escolar.
“Traz qualidade de vida para o estudante [...] é uma demanda fundamental para o processo de aprendizagem, para a convivência em sociedade e para o desenvolvimento da sua vida acadêmica e profissional”, apontou.
Com informações do Portal Terra/Estadão