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Artigo: Trabalhadoras da educação nos momentos de resistência: um olhar sobre o interior de nossas organizações

Publicado: 28 Fevereiro, 2019 - 17h58

Escrito por: CNTE

Gabriela Sancho Mena

Coordenadora Regional da Internacional da Educação para a América Latina (IEAL). Mestre em pedagogia com ênfase em diversidade nos processos educacionais pela Universidad Nacional, Costa Rica. Licenciada em psicologia.

As mulheres docentes, sindicalistas e militantes continuam proporcionando espaços de intercâmbio de experiências e conhecimentos político-organizativos.

Esses espaços partem de um trabalho em rede que promove o diálogo, de alguma maneira permanente, e pretendem, entre outras ações, colocar a situação das mulheres sindicalistas na agenda sindical, democratizar
o poder e implementar nessa estrutura a perspectiva de gênero e de classe.

A Internacional da Educação para a América Latina (IEAL) é um organismo mundial que reúne mais de 32 milhões de trabalhadores em educação de todo o mundo. Suas políticas englobam a defesa da educação pública como
um direito social, financiado pelo Estado, gratuito, laico e com cobertura para todas as crianças do mundo, assim como a defesa dos direitos dos trabalhadores em educação e dos direitos humanos. A IEAL incentiva a participação político-sindical das mulheres, a erradicação da violência às mulheres, entre outras ações.

Em particular, na região da América Latina, a IEAL, junto com seu comitê regional, implementou a RED de Trabajadoras de la Educación (Rede de Trabalhadoras da Educação). A RED é um espaço criado para as mulheres e que promove o diálogo crítico da realidade e da conjuntura nacional e internacional. Da mesma forma, são discutidas temáticas relacionadas ao gênero e à política, economia, situações sócio-políticas e, naturalmente, à educação pública e ao sindicalismo.

A RED na América Latina promove encontros regionais e sub-regionais, que possibilitam a interação de mulheres de diversos países, culturas, etnias e realidades. Isso se refletiu na última Conferência Mundial de Mulheres,
organizada pela Internacional da Educação em Marrakesh, Marrocos, em fevereiro de 2018, com a presença de quase 300 mulheres de todo o mundo. Uma delegação da RED da América Latina participou com desenvoltura destacadas por suas propostas politizadas e críticas sobre os temas desenvolvidos.[1]

Na conferência e nos encontros da RED, constata-se que 80% das filiações das organizações sindicais de trabalhadores em educação, na América Latina, correspondem a mulheres, mas ainda existe uma sub-representação da liderança feminina na própria estrutura organizacional. Um dos principais obstáculos para
a participação política eficaz das mulheres é a dificuldade de conciliação entre a vida familiar e o sindicato. Da mesma forma, existem barreiras, que impedem a participação das mulheres no sindicato. É necessário avaliar criticamente as funções desempenhadas pelas companheiras, os cargos que ocupam ou não, a relação com outras líderes e com os companheiros,para que a participação seja mais equitativa e igualitária.

É possível colocar em prática diversas estratégias para conquistar maior igualdade dentro de uma organização, por exemplo, com a sugestão de elaborar uma Política de igualdade (PI) na organização sindical. A PI é uma
série de ações e um plano de trabalho que parte dessa realidade da organização sindical. Ela busca eliminar as desigualdades existentes.

Para isso, é necessário vontade política bem como fazer um diagnóstico da participação e com perspectiva de gênero que consiga extrair as necessidades, problemáticas, expectativas e realidades das mulheres sindicalistas. Uma vez diagnosticada a situação, é realizado um plano de ação para elaborar a PI, implementá-la e dar-lhe um acompanhamento e uma avaliação.

Coincide com esta proposta o relatório regional da CEPAL, FAO, ONU Mulheres, PNUD, OIT (2013) que sugere que “Deveria ser traçado um mapa da presença de mulheres nas organizações de trabalhadores e os cargos que
ocupam e, a partir disso, elaborar um plano de ação que promova uma maior participação delas em todo o tipo de cargo (não só os relacionados à área social ou da mulher)” (p. 223).

O relatório faz um chamado à mudança cultural das organizações sindicais em relação ao gênero e à igualdade. Propõem que “…os sindicatos precisam fortalecer sua prática com a inclusão na agenda dos assuntos de equidade e não discriminação.

Atrair novos membros depende do fato de os trabalhadores e trabalhadoras sentirem que seus interesses são defendidos. A partir dessa perspectiva, a igualdade de oportunidades na agenda sindical é uma forma de aumentar a representatividade e a legitimidade das organizações.”

(CEPAL, FAO, ONU Mulheres, PNUD, OIT, 2013, p. 224).

É necessário, agora mais do que nunca, aprofundar o papel do sindicato a partir de uma perspectiva de igualdade de gênero. Estamos em um contexto de posicionamento da direita ultraconservadora e com políticas neoliberais e
retrógradas. Estamos em momentos de muros, de Apartheid, de perseguição aos movimentos sociais, sindicais e estudantis, com novas escravidões, de novas migrações, mas, também, de maior resistência coletiva, de movimentos de mulheres com marchas massivas, lutando pelos direitos das mulheres, pelos sexuais e
reprodutivos, por leis que garantam o direito de decidir por nossos corpos, pela defesa da educação pública e pelo direito à não violência contra as mulheres; estamos no momento de maior força social e temos a necessidade de
repensar nosso interior para que as estratégias político-organizacionais sejam cada vez mais fortes. Devemos, como organizações sindicais da educação, continuar resistindo e propondo a defesa da educação pública e contra o mercado e o lucro em nosso setor. E, certamente, devemos, como organizações sindicais, fortalecer ainda mais as alianças com outros movimentos sociais, estudantis e feministas. E, acima de tudo, continuar interferindo nas políticas públicas que defendam a igualdade.

CEPAL, FAO, ONU Mujeres, PNUD, OIT (2013). Relatório regional. Trabajo decente e igualdad de género. Políticas para mejorar el acceso y la calidad de empleo de las mujeres en América Latina y el Caribe. Santiago, Chile. Recuperado de: https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/@americas/@ro-lima/@sro-santiago/documents/publication/wcms_233161.pdf

1. As Conferências de Mulheres são organizadas pela Internacional da Educação e ocorrem a cada dois anos. A primeira ocorreu em Bangcoc, Tailândia; a segunda em Dublin, Irlanda, e a terceira é a mencionada (realizada em Marrakesh, Marrocos).