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Calor e baixa umidade: especialista alerta os cuidados para a saúde do trabalhador

Pneumologista conta o que pode ser feito para evitar adoecer nesse período

Publicado: 05 Setembro, 2024 - 16h18 | Última modificação: 05 Setembro, 2024 - 16h24

Escrito por: Redação CNTE

Tânia Rêgo/ Agência Brasil
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Nas últimas semanas, uma onda de calor extremo tem afetado boa parte do país. Várias cidades, especialmente das regiões Sudeste, Norte e Centro-Oeste, chegaram a entrar em alerta vermelho, de grande perigo, por conta da baixa umidade do ar.  

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), além dos agravos ao meio ambiente, pelo aumento dos incêndios florestais, a saúde da população também sofre riscos. 

O clima desértico foi registrado em mais de 200 cidades brasileiras. Outro fator preocupante é a fumaça das queimadas que tem tomado a atmosfera, exigindo o dobro de cuidados com a saúde. Para trabalhadores/as que realizam esforço físico e vocal diariamente, como os professores, especialista aponta quais atitudes para prevenir problemas potenciais, como doenças pulmonares e desidratação.

“Durante períodos de calor extremo, baixa umidade e seca, as pessoas podem experimentar uma variedade de sintomas que afetam a saúde cardiovascular e geral”, explica o pneumologista Alberto Cukier, do Hospital Santa Catarina - Paulista. 

“A desidratação, por exemplo, pode se manifestar com sintomas como boca seca, urina escura e fraqueza, e pode sobrecarregar o coração e causar arritmias. O calor extremo pode levar ao cansaço excessivo, um dos sinais de estresse térmico, e pode afetar o bem-estar cardiovascular”, alerta. 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o limite da umidade relativa do ar é cerca de 60%. Nessa semana, os estados do Piauí, Paraná, Ceará, Tocantins, Mato Grosso, Bahia, Goiás e no Distrito Federal, experienciaram o índice abaixo dos 13%. Em termos de comparação, no deserto do Saara, considerado o mais quente do mundo, a média de umidade pode variar entre 14% e 20%.

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Período desafiador

Para a secretária de saúde dos Trabalhadores da Educação da CNTE, Francisca Seixas, a crise climática é resultado da destruição ambiental que acontece no planeta. "Os maiores agressores do meio ambiente são os países ricos, e os que mais sofrem são exatamente os que menos poluem. Além dessa grave situação, as queimadas criminosas que ocorrem no Brasil (as piores desde 2010) agravam, e muito, a situação", ela lamenta.

A dirigente menciona que, no interior do estado de São Paulo, cerca de 48 cidades foram atingidas e ainda se sente os efeitos das queimadas. Até terça-feira (3/9), o país já tinha registrado mais de 135 mil focos de incêndio, um aumento de 101% em relação ao mesmo período de 2023.

O boletim divulgado pela Defesa Civil do estado, na manhã desta quinta-feira (5/9), informa que pelo menos 16 cidades ainda têm focos ativos de incêndios.

"Vemos fumaça em todos os cantos. Em algumas cidades as aulas chegaram a ser suspensas", relata.

Cuidados necessários

Segundo Francisca, no ambiente escolar, o desconforto térmico dificulta ainda mais quando há insuficiência de funcionários para suporte ao quadro de trabalhadores.

"Com a umidade extremamente baixa, necessitamos beber mais água do que nos dias com umidade boa. As dificuldades enfrentadas na educação são peculiares porque com a quantidade de funcionários insuficiente nas escolas, as professoras e professores têm dificuldade para se ausentar das salas de aula, então usam garrafinhas para se hidratarem. A mesma dificuldade acontece quando precisamos usar o banheiro, pois quando bebemos mais água, essa necessidade aumenta”, conta. 

“Ou deixam os alunos sem ninguém tomando conta ou seguramos até o intervalo, que pode ser de duas ou até três aulas subsequentes. Além disso, há salas de aula que são invariavelmente muito quentes, com pouca ventilação e em várias escolas os ventiladores são antigos, barulhentos e ressecam ainda mais o ar", lamenta.

Para ela, uma medida eficiente e importante a ser tomada nas escolas seria a execução de intervalos entre cada aula, permitindo um período de hidratação e uso do banheiro pelos alunos e profissionais. 

"Como ocorre, inclusive, nos jogos de futebol, em que o árbitro para a partida por alguns minutos para os atletas beberem água. Essa medida simples pode evitar transtornos maiores. Porque com a baixa umidade do ar, a hidratação se torna mais contundente em períodos mais curtos", considera.

Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), o médico pneumologista, Alberto Cukier, destaca os principais sintomas do estresse térmico e o que pode ser feito para evitar enfermidades nesse período. 

CNTE: O que os profissionais que fazem esforço vocal diariamente, como professores, podem fazer para evitar adoecer nesse período?

AC: Para profissionais que utilizam a voz de forma intensa, como professores, é importante adotar algumas precauções para proteger a saúde vocal, especialmente em condições de calor e baixa umidade. A hidratação contínua é essencial para manter as cordas vocais lubrificadas. Além disso, utilizar umidificadores no ambiente de trabalho, se possível, pode ajudar a manter a umidade do ar e aliviar a secura da garganta. 

Caso sinta rouquidão, é recomendável procurar um médico ou fonoaudiólogo para orientação sobre técnicas adequadas de projeção vocal e minimizar o esforço excessivo. Além disso, é importante poupar a voz, evitando gritar ou falar em volume elevado por longos períodos.

CNTE: Além de desidratação e problemas cardiovasculares, quais outros sintomas podem afetar a saúde das pessoas nesse período?

AC: Pode haver um aumento da pressão arterial, resultando em hipertensão ou hipotensão em alguns casos, e problemas respiratórios, já que a baixa umidade pode irritar as vias respiratórias e agravar condições respiratórias pré-existentes, como asma. 

Por isso, é fundamental prestar atenção a esses sintomas e buscar atendimento médico se necessário, para evitar complicações e manter a saúde em boas condições durante esses períodos desafiadores.

CNTE: Quais os cuidados devem ser adotados durante o trabalho no período de seca/baixa umidade e muito calor?

AC: É crucial reforçar a hidratação, pois a desidratação pode sobrecarregar o sistema cardiovascular e aumentar o risco de problemas como hipotensão e arritmias.

É importante, ainda, evitar a exposição ao calor extremo, especialmente durante as horas mais quentes do dia. Manter uma dieta equilibrada e evitar alimentos ricos em sódio também é fundamental. Além disso, não se esqueça de usar protetor solar e utilizar bonés ou chapéus como proteção adicional.