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Envelhecimento da população exige mudanças no mercado de trabalho

Publicado: 01 Setembro, 2023 - 14h51

Escrito por: CNTE

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O número de pessoas com mais de 30 anos nunca foi tão alto no Brasil. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada em 2022, brasileiros/as acima dessa idade correspondiam a 56,1% da população em 2021. Índice 7,6% superior a 2012, início da série histórica do levantamento. A quantidade de homens e mulheres com 60 anos ou mais também aumentou e saltou para 31,2 milhões, equivalente a 14,7% da população.

O novo perfil do país, resultado de uma associação entre fatores como melhoria da qualidade de vida e queda da fecundidade, conforme aponta o IBGE, apresenta um cenário que demanda modificações também no mercado de trabalho, aponta o secretário de Aposentados e Assuntos Previdenciários da CNTE, Sérgio Antônio Kumpfer. “O modelo econômico atual, que é excludente, não incorpora os idosos com o valor de quem já dedicou a maior parte da sua vida ao trabalho, que tem muito a compartilhar e agora merece respeito e dignidade. Esse novo tempo histórico exige novas visões, alterações na economia e nas políticas públicas e um justo sistema previdenciário”, defende.

Um dos principais debates é sobre como sustentar a Previdência Social em uma realidade na qual o número de quem já saiu do mercado passa a superar o de quem tem entrado. Em 1923, quando foi criado o sistema previdenciário, o país tinha 13 pessoas em idade ativa para cada idoso. Em 2023, a proporção é de quatro ativos para cada idoso e o número de benefícios pagos para quem recebe aposentadoria, auxílio e pensões ultrapassou a marca dos R$37,5 milhões, segundo o último Boletim Estatístico da Previdência Social, divulgado em 2022.

A análise do IBGE destaca também que, em 2018, a razão de dependência cresceu pela primeira vez, para 44,03%. Essa avaliação aponta que havia 44 pessoas dependentes para cada 100 em idade ativa. A expectativa era atingir esse quadro somente em 2023, mas a partir desses números, a previsão é que em 2060 o índice chegue a 67,23%. Isso demonstra que a população tem vivido mais, mas essa nova realidade ainda não resulta em quebra de preconceitos.

Discriminação continua

Recentemente, a atriz Rafaela Mandelli, 44, fez um desabafo nas redes sociais sobre conteúdos etaristas que viralizam e criticou imagens e vídeos que mostram o “antes e depois” de mulheres quando jovens e atualmente. “Pegam as melhores fotos de quando a mulher é jovem, e as piores de quando ela envelhece. Que coisa chata isso, pelo amor de Deus. Quando todo mundo vai entender que a idade chega para todo mundo? Por que essa cobrança exacerbada e exagerada? Claro que a gente entra nessa e começa a se cobrar muito também”, disse.

Etarismo é a discriminação contra pessoas com base em questões relacionadas à idade e pode se manifestar por meio de ações como piadas e atitudes excludentes.

Economicamente ativos

Durante muitos anos, a economia brasileira contou com o chamado bônus demográfico, a entrada de novos trabalhadores no mercado responsável por ajudar a elevar a produção do país e melhorar o desempenho da atividade econômica. A inversão desse ciclo exige repensar como sustentar o envelhecimento saudável e a resposta pode estar no preconhecimento da importância dos trabalhadores mais experientes, que seguem a contribuir com a economia.

O Boston Consulting Group estima que, em 2030, a população com mais de 55 anos nos Estados Unidos representará metade de todo o crescimento do gasto dos consumidores. Os números são ainda maiores no Japão, 67%, e na Alemanha, 86%. Dados da Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia mostram que entre 2013 e 2017, o número de pessoas com 65 anos ou mais com carteira assinada cresceu 43% e tende a subir ainda mais. De acordo com a projeção da Fundação Getúlio Vargas, em 2040, 57% dos trabalhadores terão mais de 45 anos e pesquisa da empresa Maturi aponta que 57% das companhias pensam em contratar pessoas da chamada terceira idade.

A mudança no universo profissional acaba por estabelecer a necessidade de trocas geracionais maiores e estudos sobre o tema. Segundo o Institute for Employment Studies, de Londres, profissionais mais maduros valorizam ter responsabilidade e autonomia em suas ocupações, assim como manter relacionamentos sólidos entre os colegas e transmitir seus conhecimentos.

A realidade, porém, ainda aponta desafios como a dificuldade em acabar com a violência e o abandono, falta de transporte adequado, exploração financeira de familiares e falta de interação social.

60+ Próspero no MS

Mas o tema já ganha importância e no Mato Grosso do Sul recebeu status de secretaria. Zirleide Silva Barbosa, subsecretária de Políticas Públicas para Pessoas Idosas do Estado, diz que a pasta precisa ter um olhar amplo para dar conta das características regionais. 

Segundo ela, em um estado culturalmente diverso, que faz fronteira com Paraguai e Bolívia, e possui a segunda maior população indígena do país, o processo de envelhecimento não é igual para todos. “O envelhecimento na aldeia é diferente de envelhecer em contexto urbano, por exemplo. E são estas algumas das atenções que devemos ter ao pensar políticas públicas para a pessoa idosa.

Recebemos, do governador Eduardo Riedel (PSDB), a incumbência de formular políticas públicas em consonância com o Pacto Nacional de Implementação dos Direitos da Pessoa Idosa, possíveis para atender os diversos municípios”, explica.

Dentre as ações, há medidas para discutir as violências e como enfrentá-las e a implantação de programas como o “Projeto MS 60+ Próspero” para levantar e atualizar dados que permitam traçar diretrizes e indicadores de desempenho das políticas públicas para pessoas idosas.

A iniciativa também tem como objetivo fortalecer as políticas públicas para as pessoas idosas no Estado. O programa oferece ao público palestras, debates, escutas, exibição de documentários, rodas de conversas, seminários e diálogos. No início de 2023, a subsecretaria de Estado de Políticas Públicas para Pessoas Idosas convidou instituições governamentais e não-governamentais para discutirem o enfrentamento à violência contra a pessoa idosa, que podem ser visíveis e invisíveis.

Segundo Sérgio Kumpfer, da CNTE, a mobilização do movimento sindical também é muito importante para garantir que os direitos já conquistados sejam efetivamente aplicados. “De um modo geral, a sociedade ainda não está preparada para o envelhecimento da população, apesar da Constituição de 1988, do Estatuto do Idoso e da luta social que deixaram avanços importantíssimos. Os idosos são portadores de saberes, de experiências ímpares que podem ser desfrutadas por todas as gerações mais jovens e devem fazer parte da nossa vida social”, defende.