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Exemplo - Educação Freiriana é saída para a pandemia

Publicado: 01 Março, 2021 - 12h27

Escrito por: CNTE

A pandemia da Covid-19 mostrou a triste realidade do nosso país em relação ao projeto de educação governamental. Os menos favorecidos, mais uma vez, foram os mais prejudicados. Aulas online para quem não tem computador, celular e sinal de internet. Crianças fora da escola onde tinham, em muitos casos, a única alimentação do dia. Professores e demais trabalhadores da educação desempregados com o fechamento de escolas e creches.

Paulo Freire estabeleceu uma conduta educacional de inquietação e questionamento. Por causa disso, o professor José Batista, da Universidade Federal de Pernambuco, acredita que
o momento de pandemia é propício para que a educação freiriana seja fortalecida. "Paulo Freire foi um homem da pós pandemia anterior, lá no início do século XX. E a partir daí, construiu uma pedagogia rica, vigorosa e rigorosa. Ele nunca pensou uma educação para, mas com a população e com os trabalhadores da educação. Por isso, a democratização é uma pauta presente no pensamento de Paulo Freire", disse o docente durante live realizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).

Seguindo o mesmo pensamento, a professora Ana Maria Saul, coordenadora da Cátedra Paulo Freire da PUC-SP, diz que é essencial, para o atual momento, investigar e trazer elementos que mostram como o pensamento de Freire influencia e adentra as redes públicas de ensino. "Precisamos reinventar o pensamento e a prática de PF mantendo os princípios e valores fundamentais do autor", destacou durante live da CNTE. Já a professora Lúcia Alvarez, da UFMG, lembra que a questão da escola não se resume aos conhecimentos e conteúdos transmitidos, mas sim às pessoas. "Precisamos nos preocupar com os sujeitos: alunos, professores e demais trabalhadores da educação. A sensação é a de que algumas pessoas são invisíveis quando vemosos debates sobre educação", destacou durante a live da CNTE.

Lúcia Alvarez questiona, ainda, a falta de voz de minorias no processo educacional. "A leitura do mundo precede a leitura da palavra. Educação Freiriana é saída para a pandemia
Mas se pensarmos, quem tem direito, hoje, de pronunciar o mundo? Quais são as vozes que efetivamente são ouvidas e consideradas neste espaço público?", questionou. Neste sentido o professor José Batista lembra da necessidade, presente em todo o pensamento freiriano, do diálogo. Para ele, o país – enquanto projeto de governo – perdeu a capacidade de dialogar, ouvir divergências e ponderar. "O diálogo é muito importante para que diferentes vozes sejam ouvidas. Não podemos viver em um monólogo impositivo. O diálogo é uma ferramenta de construção. Precisamos restaurar isso no Brasil, com gosto pelas posições divergentes, sem que se tenha ódio do diferente", afirmou.

Para os especialistas, o pensamento de Paulo Freire para a pandemia seria o de inclusão e de pensar territorialmente. A professora Lúcia questiona qual é o projeto de educação neste
momento. "Falta computador e internet, mas se tivesse, é esse modelo que a gente quer? Um modelo tecnicista?", questiona. Segundo ela, um exemplo interessante durante a pandemia foi o de uma aldeia indígena em Minas Gerais, que adotou a educação familiar, uma vez que toda família tem ao menos um professor. "Nesse trabalho, não interessa o conteúdo e idade dos alunos. Todos aprendem juntos, numa formação humana e não técnica".

Por fim, Batista diz que a educação de Freire é esperançosa e por isso deve ser levada sempre em frente. No entanto, é necessário colocar em pauta alguns princípios fundamentais para o período atual: educação não pode ser vista como serviço, mas direito fundamental básico; o financiamento público dos níveis da educação; a formação dos trabalhadores da educação; a valorização do grupo profissional do magistério, com níveis salariais e carreiras; a revisão de currículos; e a gestão democrática dos temas e da escola.

Centenário de Paulo Freire
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) incorpora ao seu calendário de atividades a Jornada Latino-Americana de luta em defesa da educação pública, gratuita, laica e emancipadora, contra a mercantilização e privatização: rumo ao centenário de nascimento de Paulo Freire. O encontro está marcado para os dias 19 e 20 de setembro, respectivamente na Praça do Carmo e na Universidade Federal de Pernambuco.

Convocada pela Internacional da Educação para América Latina (IEAL) e pela Rede Latino-Americana de Estudos sobre o Trabalho Docente (RED ESTRADO) em 2017, esta mobilização continental defende a memória de Paulo Freire, nosso patrono nacional da educação, tão atacado nos dias de hoje no país. No centenário do nascimento de Paulo Freire, em 2021, a América Latina se reunirá no Brasil para recordar e manter vivo o legado do professor Freire.

>> Acesse o arquivo digital (em PDF) da revista Mátria 2021