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Mercado de Trabalho: Elas sabem mais, mas ainda ganham menos

Publicado: 02 Março, 2015 - 17h05

Escrito por: CNTE

As mulheres, em média, têm mais educação, são mais experientes e produtivas do que seus colegas do sexo masculino, mas a realidade e os números mostram que ainda ganham salários menores

Organização Internacional do Trabalho (OIT) concluiu, em seu mais recente Relatório sobre Salário Global, que homens recebem mais do que as mulheres em todos os 38 países analisados, mostrando que a distância de gêneros, quando se trata de proventos, prevalece no mundo inteiro.

O levantamento do Fórum Econômico Mundial mostrou que a diferença de salários entre homens e mulheres aumentou. No Índice Global de Desigualdade de Gênero de 2014, o País perdeu nove posições, e caiu da 62a colocação para 71a entre 142 nações. Na América Latina, o Brasil está na 15a posição entre 25 nações.

Os salários dos homens são 70% maiores do que das mulheres. A renda média anual das trabalhadoras brasileiras é estimada em 10.820 dólares enquanto a dos homens em 18.402 dólares. O relatório leva em conta quatro variáveis: participação econômica (salários, oportunidade e liderança), educação (básica e avançada), capacitação política (representação nas estruturas de tomada de decisão) e saúde e sobrevivência (expectativa de vida e coeficiente sexual).

Teto de vidro
O Brasil está no grupo de países que investiram na educação das mulheres. Em contrapartida, não removeram barreiras para a maior participação no mercado de trabalho. Nesse grupo estão também Japão, Chile e Emirados Árabes.

“Ainda temos alguns obstáculos de gênero que atrapalham as mulheres, mesmo com igual ou melhor nível de escolaridade. Há barreiras invisíveis que fazem com que não consigam altos postos e cargos de trabalho e comando”, explica Marjorie Nogueira Chaves, doutora em Política Social pela Universidade de Brasília (UnB).

Ela, que é mestre em estudos feministas e de gênero pelo programa de pós-graduação em história pela UnB, aponta que existe o que se chama de ‘Teto de Vidro’: barreiras que não são formalmente colocadas,como por exemplo, o preconceito de gênero, a questão da representação política e (uma das principais) a divisão sexual do trabalho.

“As mulheres ainda tomam conta da casa e dos filhos, o que faz com que tenham de se dividir em várias tarefas ao mesmo tempo e desistam de perseguir o topo de sua carreira ou quetenham mais dificuldade, pelo simples fato de nunca estarem tão disponíveis para viagens, horas extras etc.”, destaca.

Postos precários
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) das Nações Unidas divulgou, em novembro de 2014, três estudos sobre a igualdade de gênero. Segundo a CEPAL, 22,8 milhões de mulheres entraram no mercado de trabalho na América Latina nos últimos dez anos, graças a uma melhora dos níveis educacionais e do crescimento econômico. São 100 milhões de mulheres trabalhando atualmente na AméricaLatina, mas essa cifra representa apenas 50% das mulheres em idade economicamente ativa, em contraste com 80% dos homens empregados. Metade das mulheres empregadas ocupam postos de trabalho precários.

Apesar dos estudos e estatísticas indicarem as barreiras e obstáculos que ainda persistem no caminho das trabalhadoras em todo mundo, na América Latina e no Brasil, “a gente não pode ser pessimista”, alerta Marjorie. Ela lembra que algumas mudanças estão ocorrendo e os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mais recentes já refletem uma modificação.

Pequeno avanço
Segundo Marjorie, as mulheres estão ocupando mais postos de trabalho e progressivamente aumentando seus salários: “Existem algumas mudanças que temos que considerar. Muitas estão saindo da informalidade e contando com os direitos trabalhistas”.

Dados do Cadastro de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados em outubro de 2014, também indicam uma melhora na situação feminina em relação aos homens no mercado de trabalho. Mostram que elas estão avançando para a redução da defasagem salarial em relação a eles.

No salário médio real de admissão por grau de instrução, por exemplo, as mulheres sem escolaridade tiveram ajuste de 3,18% no emprego com carteira assinada, enquanto homens nesta mesma condição receberam 0,82% a mais entre janeiro e setembro de 2014, em relação a igual período do ano anterior.

“Na questão de gênero, tem acontecido que o aumento salarial das mulheres foi superior, em termos percentuais, ao dos homens”, afirmou o ministro do Trabalho e Emprego (MTE), Manoel Dias. Como consequência, explicou na época, há uma perspectiva real de que os salários sejam mais equilibrados entre os dois sexos em um futuro próximo.

Acesse o arquivo em PDF da Revista Mátria 2015