MENU

Mulheres do Brasil: Elas fizeram história

Publicado: 02 Março, 2015 - 18h56

Escrito por: CNTE

Abolicionistas, sufragistas, feministas, socialistas ou simplesmente mulheres à procura de seu espaço em um mundo tradicionalmente dominado pelos homens. Incansáveis, não se abateram e nem abaixaram a cabeça para as regras que muitas vezes determinavam que
o direito delas era simplesmente não ter direitos

No Brasil e no mundo, as mulheres fizeram a diferença em momentos-chave da história. Do império à atualidade, brasileiras têm protagonizado lutas por igualdade de gêneros, justiça social e avanço dos direitos civis. Algumas permaneceram no anonimato em sua luta silenciosa. Outras tiveram destaque e fizeram de suas trajetórias histórias que transformaram o País.

As mulheres de hoje colhem os frutos do espaço criado por essas brasileiras. Basta constatar que há menos de um século não tinham nem a metade dos direitos atuais, especialmente no que se refere à vida pública e política. Centenas de mulheres tiveram de lutar e se expor para ganhar terreno.

Ana Maria de Jesus Ribeiro da Silva é uma delas. De origem humilde, nascida em Laguna (SC), teve uma boa educação e casou-se jovem, aos 15 anos, com Manuel Duarte de Aguiar. Em 1837, durante a Revolução Farroupilha, conheceu Giuseppe Garibaldi, um dos principais líderes do movimento que conquistara sua cidade natal.

Movida pela paixão por Giuseppe, Ana Maria abandonou o casamento infeliz para tornar-se Anita Garibaldi, considerada a “Heroína dos Dois Mundos”. Recebeu esse título por ter participado no Brasil e na Itália, ao lado de seu marido Giuseppe Garibaldi, de diversas batalhas. Lutou na Revolução Farroupilha (Guerra dos Farrapos), na Batalha dos Curitibanos e na Batalha de Gianicolo, na Itália.

Tão batalhadora e determinada quanto Anita, a única mulher inconfidente, Hipólita Jacinta Teixeira de Mello teve participação ativa na Inconfidência Mineira, arriscando a própria vida pela causa da liberdade. Casada com o coronel Francisco Teixeira Lopes, promovia reuniões secretas na fazenda da Ponta do Morro onde morava, na antiga Vila Rica, hoje Ouro Preto. Incentivava a tomada de posição enérgica contra a exploração do povo e chegou a financiar algumas ações dos conjurados.

Filha de portugueses, era uma mulher rica e de vasta cultura. Muito bem informada sobre o que se passava, foi ela quem denunciou Joaquim Silvério dos Reis como delator aos companheiros e avisou em primeira mão, ao resto do grupo, que Tiradentes havia sido preso no Rio de Janeiro.

No Nordeste brasileiro, a escritora e avó do escritor José de Alencar, nascida em Exu, interior de Pernambuco, em 1760, Bárbara Alencar é outra brasileira que deixou sua marca na luta revolucionária. Considerada a primeira prisioneira política da História do Brasil, matriarca e conspiradora foi uma das primeiras mulheres de que se tem notícias a envolver-se na revolução de 1817. Participou de várias revoltas, de movimentos militares
como a Revolução Pernambucana (1817) e da Confederação do Equador (1824), organizou-as e fez de sua casa um lugar de encontros. Presa, passou muitos anos em calabouços afirmando – segundo o dito popular – que “não queira ser rainha não! Queria ser rei!”.

Também nordestina, Maria Quitéria de Jesus lutou nos batalhões nacionalistas nas guerras de independência e não deve ser vista como mais uma exceção. Conta-se que comandou um batalhão de mulheres. Montava, caçava e manejava armas de fogo. Tornou-se soldado em 1822, quando o Recôncavo Baiano lutava contra os portugueses a favor da consolidação da independência do Brasil.

Na metade do século XIX, o ensino proposto só admitia meninas na escola de 1o grau, sendo que estudos de grau mais alto eram somente para meninos. A regra porém não deteve Nísia Floresta Augusta. Pioneira na luta pela alfabetização das meninas e jovens, fundou uma escola inovadora na cidade do Rio de Janeiro, marco na história da educação feminina no Brasil.

Primeira mulher brasileira a defender publicamente a emancipação feminina, também foi uma das pioneiras a publicar artigos em jornais de grande circulação. Nísia Floresta considerava que as diferenças entre os sexos são construções sociais e que não justificam a desigualdade. Achava que a educação era o primeiro passo para emancipação da mulher. Apoiou o movimento abolicionista e republicano.

No campo das artes, Chiquinha Gonzaga trocou o casamento pelo piano. Escandalizou com seus modos livres e fascinou senhores, que a gracejavam com o título de seu primeiro sucesso: Atraente. Pianista em saraus e teatros, Chiquinha participava das “conferências-concerto” abolicionistas nas quais, após os discursos políticos, havia concertos de piano, atrizes dramáticas declamavam e cantoras líricas entoavam árias contra a escravidão. Vendeu suas composições de porta em porta para alforriar um escravo músico, conhecido como Zé Flauta.

Militante comunista, Patrícia Galvão, a Pagu, foi presa por motivações políticas em 1931. Escritora, poeta, diretora de teatro, tradutora, desenhista e jornalista brasileira, embora tenha se tornado musa dos modernistas, tinha apenas 12 anos durante a Semana de Arte Moderna, da qual não fez parte. Em 1928 integrou o movimento antropofágico e, dois anos depois, aos 20, se casou com Oswald de Andrade, até então marido de Tarsila do Amaral, com quem teve um filho. Avançada para os padrões da época, fumava na rua, usava blusas transparentes e dizia palavrões, comportamento incompatível com sua origem familiar conservadora. Foi presa 23 vezes.

Em 1935 foi presa em Paris como comunista estrangeira, com identidade falsa, sendo repatriada para o Brasil. Com câncer, tentou o suicídio, mas morreu em 1962, vítima da doença. Primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras e a ser premiada com o Prêmio Camões, Rachel de Queiroz foi tradutora, romancista, escritora, jornalista, cronista e importante dramaturga brasileira. Se envolveu com política e se interessou pelas questões sociais da sua terra de nascimento. Presa em 1937, em Fortaleza, acusada de ser comunista, teve exemplares de seus romances queimados.

A lista não para por aí: muitas outras caminharam por essa estrada, anônimas ou não, e muitas outras virão, porque a estrada é longa, mas não infinita.

Acesse o arquivo em PDF da Revista Mátria 2015