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'Recontar a história pela memória da população negra' é o tema da campanha da CNTE para o Dia da Consciência Negra

Dia Nacional da Consciência Negra busca conscientizar sobre a força e a resistência do povo negro

Publicado: 18 Novembro, 2022 - 20h07

Escrito por: CNTE

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Neste ano, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) lançou a campanha do Dia da Consciência Negra com o tema "Recontar a história pela memória do povo negro". A proposta é incentivar o debate desse tema nas escolas e comunidade escolar. Para isso, a CNTE produziu peças para redes sociais, além do Jornal Mural e do cartaz que serão distribuídos para escolas públicas e sindicatos de todo país. Clique aqui para baixar todos os materiais disponíveis.

A secretária de combate ao racismo da CNTE, Iêda Leal, reforça o convite da campanha: "Nós vamos ajudar na contagem das hitórias de todo país. Recontar a história das nossas matriarcas, das nossas mães, das avós, dos nossos parentes, dos negros do Brasil. Você que está na escola vai ter a oportunidade de se juntar à comunidade, para fazer a grande tarefa do nosso país neste momento. Contar a história do Brasil através das nossas histórias, através da história da população negra no país".

Os anos de escravidão deixaram marcas intensas no Brasil, que de tão profundas até hoje, negros e negras ainda lutam por direitos e protagonismo. Na véspera do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado neste domingo (20), especialistas defendem avanços nas políticas afirmativas.

Para combater esse problema estrutural, especialistas dizem que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisa colocar a luta antirracista como prioridade nos seus quatro anos de mandato. Durante os primeiros anos de governo, em 2003, Lula sancionou um projeto que obrigou o ensino de História Afro-Brasileira nas escolas brasileiras. A decisão foi tomada no nono dia de governo e foi considerada um marco na história das conquistas antirracistas no país.

Agora, os movimentos negros, ativistas e especialistas que defendem a causa pretendem avançar na pauta em Brasília. De acordo com a historiadora e educadora Conceição de Oliveira, reconhecer o papel da população negra no Brasil é reconhecer que existe uma dívida histórica que deve ser abolida. “É reconhecer politicamente que você tem que desenvolver políticas de combate ao racismo e de inclusão porque o racismo que produz essa pobreza gigantesca é o racismo que mata”, afirma.

Conceição, conhecida como a blogueira Maria Frô, lembra que a Lei 10.639/03 que inclui História e Cultura Afro-Brasileira no currículo do ensino fundamental e médio foi muito simbólica porque foi construído pelas mãos de pessoas que não estavam nos livros da história. “Eram vistos de maneira estereotipada, tinha um olhar só sobre escravidão. É impossível você estudar o Brasil sem olhar para história da cultura dos povos africanos, a nossa língua, as comidas, as resistências, nossa música e nossa arte popular, que têm as contribuições desta história”, completa.

Dor preta

Por três séculos, o Brasil explorou aproximadamente quatro dos 10 milhões de africanos que foram trazidos para exercer o trabalho escravo. Situação que só teve fim por conta da resistência dos negros escravizados, somado ao interesse econômico mundial de que o país deixasse o sistema escravocrata.

Para a escritora e pesquisadora, Vilma Piedade, nesta pauta também tem que ter a mulher negra, que é uma das principais vítimas da violência e as mais vulneráveis em políticas sociais desde sempre. “Ser mulher negra nesse país é conviver com o racismo no cotidiano, mas nós transformamos dor em potência, como coloco no meu Livro “Conceito Dororidade”.

Segundo a escritora, o machismo une todas as mulheres, sejam brancas, pretas ou indígenas, mas ressalta: “todas nós mulheres negras temos ainda uma dor a mais. A dor não se mede, a dor é de quem sente. A dor é preta”.

Escritoras negras contando suas histórias

Vilma cita ainda a importância de se conhecer e ler escritoras negras que fizeram história no país. Uma delas é Lélia Gonzalez, que morreu em 1994. Lélia foi intelectual, autora, política, professora, filósofa e antropóloga brasileira. Lélia foi pioneira nos estudos sobre Cultura Negra no Brasil e co-fundadora do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras do Rio de Janeiro, do Movimento Negro Unificado e do Olodum.

“É preciso lembrar que Maria Firmina dos Reis, nossa primeira romancista com a obra “Romance Úrsula”. Carolina Maria de Jesus, que foi traduzida em 42 idiomas, nasceu e morreu no lixão e é um ícone. E nos anos 1980, a Lélia Gonzalez que “empretece” tudo. Empretece o feminismo e cria o coletivo de Zinga, em 1983, o coletivo de mulheres negras”, recorda a pesquisadora.

>> Saiba mais: Educação pública deve ser colocada como vetor para o combate ao racismo, diz pedagoga

Violência

Durante os governos do PT foi criada a Lei Maria da Penha, houve a expansão das delegacias destinada às mulheres vítimas da violência e foi criado o atendimento das mulheres vítimas de violência nas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com os dados do Atlas da Violência, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 11 anos, o homicídio entre as mulheres negras aumentou 2%, enquanto o assassinato de mulheres brancas caiu 27% no mesmo período. 

“Ser mulher já é um problema, porque a violência está imensa, o feminicídio contra as mulheres negras também aumentou muito, mas vamos acreditar que temos que ter esperança de dias melhores. Temos que acreditar que nosso trabalho continua”, finaliza Vilma.

20 de novembro – a luta de Zumbi

A data de celebração da consciência negra foi escolhida porque foi em 20 de novembro de 1695 que morreu Zumbi dos Palmares, o último dos líderes do Quilombo dos Palmares, em Pernambuco. Zumbi virou símbolo da luta do povo negro contra a escravidão. Sua luta é simbólica e inspira a população negra e a sociedade em geral sobre a força e a resistência que o povo negro viveu – e vive - no Brasil desde a colonização.

É feriado?

O Dia da Consciência Negra é celebrado no Brasil em 20 de novembro, desde 2003, mas foi instituído oficialmente como feriado no país em 2011, por meio de uma lei (12.519) sancionada pela então presidenta Dilma Rousseff. Mas nem todos os estados e cidades implementaram o feriado. Confira as cidades onde o feriado de 20 de novembro foi regulamentado.