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SE: Estudantes do ensino médio em tempo integral só têm garantida uma refeição por dia

Nove horas. Este é o tempo que os estudantes matriculados na rede estadual de ensino, do estado de Sergipe, na modalidade de Ensino Médio em Tempo Integral passam em seus colégios. As aulas iniciam às 07h da manhã e terminam às 16h. E ao longo destas nove horas tudo que centenas de jovens recebem para comer é apenas o almoço, que está distante de ser uma refeição farta, sa...

Publicado: 09 Julho, 2018 - 15h09

Escrito por: CNTE

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Nove horas. Este é o tempo que os estudantes matriculados na rede estadual de ensino, do estado de Sergipe, na modalidade de Ensino Médio em Tempo Integral passam em seus colégios. As aulas iniciam às 07h da manhã e terminam às 16h. E ao longo destas nove horas tudo que centenas de jovens recebem para comer é apenas o almoço, que está distante de ser uma refeição farta, saborosa e nutritiva.

No Centro de Excelência Manoel Messias Feitosa, em Nossa Senhora da Glória, os estudantes vivem esta realidade, e um pouco mais agravada, pois passam nove horas e meia na Unidade de ensino. Lá as aulas começam às 07h:30 e terminam às 17h. No Manoel Messias Feitosa não há o que comer pela manhã, quando tem algo, de modo geral, é broa ou maça, refeição mesmo é raro. No período da tarde a situação é ainda pior. Nos poucos dias que tem algo para comer pela manhã, se sobrar, o mesmo lanche é dado aos estudantes à tarde.

Vale destacar que o Centro de Excelência Manoel Messias Feitosa recebe estudantes vindos de várias cidades da região: Porto da Folha, Graccho Cardoso, Poço Redondo, Monte Alegre e Canindé de São Francisco. Muitos destes meninos e meninas estão de pé antes mesmo das cinco horas da manhã para não correr o risco de chegarem atrasados. Caso estes estudantes não tomem café da manhã antes de sair de suas casas, só irão comer ao meio dia, na hora do almoço.

Diante deste cenário, a hora do almoço é um momento esperado pelos estudantes, mas o almoço no Centro de Excelência Manoel Messias Feitosa é uma grande decepção. “Passamos 15 dias comendo carne moída. A comida é sem sabor e sabemos que não é culpa das merendeiras que tentam fazer o melhor. Faltam temperos para elas prepararem a comida. Ficamos uns dias sem feijão. Salada nunca tem. Já aconteceu, algumas vezes, de não ter o almoço e sermos liberados para ir para casa ao meio dia. É muito problemática a alimentação aqui”, conta uma estudante do 1º ano do ensino médio em tempo integral*.

Com isso, alguns estudantes levam comida de casa. Aqueles que têm um pouco mais de condição financeira optam por comer de quentinha ou comem um lanche das barraquinhas que ficam em frente ao Colégio. No dia em que representantes do SINTESE estiveram Centro de Excelência Manoel Messias Feitosa, no final do mês de junho, estava sendo preparado para o almoço dos estudantes peito de frango cozido, macarrão e arroz. O tempero usado para os cinco quilos de peito de frango preparados naquele dia foi apenas sal e duas cebolas. Antes da comida ser servida aos estudantes, o diretor do Manoel Messias Feitosa, Sr. Pedro Jonathan Santos Santana, pediu para que as representantes do SINTESE se retirassem da unidade de ensino.

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), do Mistério da Educação (MEC), diz que deve ser assegurado aos estudantes matriculados em Tempo Integral, nas escolas da rede pública, três refeições diárias.

Problemas estruturais

Além da alimentação escolar, os estudantes Centro de Excelência Manoel Messias Feitosa sofrem com outros problemas estruturais na Unidade de Ensino. As salas são pequenas e as turmas têm em média 40 alunos. A impressão ao entrarmos nas salas de aulas é que estão superlotadas, pois não há espaço entre as cadeiras, os estudantes ficam bem próximos uns dos outros.

Com isso, nos dias quentes (lembrando que estamos falando de Nossa Senhora da Gloria, uma cidade localizada no alto sertão de Sergipe), os estudantes dizem que as salas viram verdadeiros fornos. As janelas são altas e a ventilação das salas de aula é garantida por ventiladores fixos nas paredes. Em algumas salas a função ‘giratória’ dos ventiladores não está funcionando, com isso o ventilador ‘joga vento’ apenas para um lado da sala. Há salas que os estudantes não podem nem contar com ‘o vento para um lado só’ porque os ventiladores sequer funcionam.

Existe laboratório de química no Centro de Excelência Manoel Messias Feitosa, mas, quando representantes do SINTESE estiveram na Unidade de Ensino, o mesmo não estava funcionando, pois não havia água no laboratório.Também há um laboratório de informática, mas não estava sendo usado porque o ar condicionado estava quebrado. Não há condição de usar o espaço sem que o ar condicionado esteja funcionando. Mesmo que o ar condicionado estivesse funcionando, há outro problema no laboratório de informática, embora haja toda a aparelhagem, a conexão de internet não funciona. Como isso, os computadores acabam se limitando a grandes máquinas de calcular e escrever.

Embora o Centro de Excelência Manoel Messias Feitosa, seja um Colégio de ensino médio em tempo integral desde 2006, a unidade de ensino não conta com uma biblioteca. A informação que consta é que o espaço onde era a antiga cozinha da Unidade de Ensino será limpo e lá serão colocados os livros enviados pelo FNDE. Mas como o espaço da antiga cozinha não é grande o suficiente para colocar as estantes com os livros e mesas com cadeiras para os estudantes fazerem suas pesquisas e estudos, as mesas e cadeiras para tais fins serão colocadas no pátio do Colégio.

Há pouco mais de um ano os estudantes contam com armários para guardar seus pertences, mas o número é insuficiente. Ao todo 440 estudantes estão matriculados no Ensino Médio em Tempo Integral, mas o Secretaria de Estado da Educação (SEED), enviou apenas 200 armários. Com isso, os estudantes têm que dividir os armários entre eles. Alguns armários são divididos por dois estudantes e outros por três.

Os problemas com a alimentação escolar e na estrutura Centro de Excelência Manoel Messias Feitosa serão levados pelo SINTESE, por meio de ofício, ao conhecimento do Ministério Público Estadual (MPE/SE). Além disso, será enviado ofício também a Secretaria de Estado da Educação (SEED) questionando a situação da Unidade de ensino e exigindo que providências sejam tomadas.

(SINTESE, 09/07/2018)