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Série “Operação Condor” homenageia Paulo Freire e resistência à ditadura

Produção audiovisual resgata histórias de resistência durante regime autoritário; Heleno Araújo, presidente da CNTE, comenta a importância da série

Publicado: 27 Maio, 2025 - 12h03 | Última modificação: 27 Maio, 2025 - 17h43

Escrito por: CNTE | Editado por: CNTE

Foto: Instituto Paulo Freire/Acervo
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Com início das gravações para o começo do segundo semestre, a série de TV “Operação Condor” - dos diretores Cleonildo Cruz e Luiz Gonzaga Belluzzo - já desperta atenção ao homenagear figuras que enfrentaram as ditaduras militares no Brasil e na América do Sul. No episódio brasileiro, quatro nomes da resistência são lembrados: Rubens Paiva, Stuart Angel, Zuzu Angel - e Paulo Freire, símbolo de uma educação libertadora. A homenagem a Freire reforça o papel da educação como instrumento de luta democrática e resistência política.

A série, com sete episódios, retrata o pacto repressivo firmado entre os regimes militares da América do Sul com apoio internacional, que resultou na perseguição, tortura, assassinato e desaparecimento de milhares de pessoas. Com estreia prevista para os próximos meses, Operação Condor busca resgatar vozes silenciadas e denunciar o autoritarismo, tornando-se um marco audiovisual em defesa dos direitos humanos.

Ao comentar a importância da série, Heleno Araújo, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), destaca o papel dos (as) educadores (as) na resistência às ditaduras e na defesa da democracia.

“Nos momentos de governos ditatoriais, de golpe, os/as profissionais da educação são os primeiros a serem atacados. Por isso, para nós da CNTE é de fundamental importância manter as ações críticas, resistência e profunda negação às ditaduras. Externamos todo nosso apoio à série de TV sobre a Operação Condor.”

Segundo Heleno, o reconhecimento da luta de Paulo Freire na série fortalece o debate sobre a importância da educação pública como ferramenta de conscientização e transformação social.

“Lembrar os fatos históricos de perseguições, mortes e sumiço das pessoas pelas ditaduras na nossa região deve servir para entender o que aconteceu e não deixarmos voltar a acontecer. Logo, atuamos no fortalecimento da democracia e da educação pública. Sigamos firmes nestas lutas!”

O presidente da CNTE também destacou a urgência de políticas públicas que assegurem memória, verdade e justiça, em especial diante dos ataques recentes às instituições democráticas no Brasil.

“Somos apoiadores de todas as medidas de resgate da memória, da verdade e por justiça em nosso País. E o que aconteceu no Brasil em janeiro de 2023, com as revelações que temos hoje - entre elas, a trama para matar o presidente e o vice-presidente da República, um ministro do Supremo Tribunal Federal e outras pessoas - são fatos recentes que mostram a necessidade urgente de políticas públicas que garantam memória, verdade e justiça no Brasil.”

CNTE apoia projeto

A CNTE integra a lista de entidades apoiadoras da série Operação Condor, ao lado da Internacional da Educação, Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), Instituto de Políticas Públicas em Direitos do Mercosul, com sede em Montevidéu; do Museu de Memória e Direitos Humanos do governo do Chile, da OEA - Corte Interamericana de Direitos Humanos; da Associação Brasileira de Imprensa, da Associação Brasileira de Economistas e o Clube de Engenharia do Brasil.

“Operação Condor, com início das gravações previsto para o segundo semestre, conta com o apoio das principais entidades do Brasil e da América Latina - algo nunca visto em toda a filmografia brasileira”, endossam em conjunto os diretores da série, Cleonildo Cruz e Luiz Gonzaga Belluzzo.

Mais do que uma produção histórica, Operação Condor encontra na educação uma aliada para manter viva a memória dos que lutaram por justiça e liberdade.

Vozes que não se calam

Entre os consultores da produção está Heleno Araújo, presença firme entre os que semeiam consciência e memória. Nas palavras do diretor Cleonildo Cruz, Heleno é “uma das vozes mais ativas na defesa da educação cidadã e da verdade histórica sobre os crimes cometidos pelas ditaduras na América Latina e na Europa”. Uma voz que ecoa, denuncia e educa - porque lembrar é também resistir.

Ao seu lado, Hildegard Angel, também consultora da série, carrega no nome e na história o peso da luta e da resistência. Filha da estilista Zuzu Angel e irmã de Stuart Angel, desaparecido político, ela é diretora do Instituto Zuzu Angel e referência no ativismo pela justiça histórica. Hildegard Angel declarou à CNTE:

 “É com grande honra que participo como consultora desta série que tem, mais do que um compromisso histórico, uma missão ética: recuperar memórias, denunciar silêncios e dar nome aos que resistiram. No episódio brasileiro, a presença de Rubens Paiva, Stuart Angel e Zuzu Angel, nomes tão marcantes na luta contra a ditadura, é um gesto de justiça histórica. E a inclusão de Paulo Freire, com sua pedagogia libertadora, reafirma a educação como uma forma de resistência, como uma prática transformadora da realidade. Que essa produção alcance muitas vozes e desperte muitas consciências."

 

Instituto Zuzu Angel/Redes SociaisInstituto Zuzu Angel/Redes Sociais
Zuzu Angel

 

Outro consultor do projeto, Jamil Chade empresta à obra sua experiência de jornalista e correspondente internacional. Com trajetória marcada pela defesa dos direitos humanos e da democracia, foi pesquisador da Comissão Nacional da Verdade e tornou-se referência nos temas de justiça transicional e memória histórica.

João Vicente Goulart, filósofo e presidente do Instituto João Goulart, também integra a equipe de consultores. Filho do ex-presidente João Goulart, atua na preservação da memória democrática brasileira e na defesa de valores como a soberania, a democracia e o resgate das verdades históricas.

Resistência

A série Operação Condor ganha destaque ao homenagear personalidades que resistiram aos regimes autoritários.

A produção resgata a luta por memória, verdade e justiça, reforçando a importância da educação na resistência às violações de direitos humanos.

Com sete episódios, a série presta tributo a figuras emblemáticas da resistência em cada um dos países: 

Brasil: Paulo Freire, Rubens Paiva, Zuzu Angel e Stuart Angel
Chile: Pablo Neruda
Argentina: Hebe de Bonafini e Estela de Carlotto (Mães e Avós da Praça de Maio)
Uruguai: José "Pepe" Mujica
Paraguai: Martín Almada (responsável por revelar os "Arquivos do Terror")
Bolívia: Dom Luis Aníbal Rodríguez Pardo
Peru: Hugo Blanco Galdós

Memórias reveladas

A Operação Condor, formalizada em reunião secreta realizada em Santiago do Chile no final de outubro de 1975, é o nome que foi dado à aliança entre as ditaduras instaladas nos países do Cone Sul na década de 1970 - Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai - para a realização de atividades coordenadas, de forma clandestina e à margem da lei, com o objetivo de vigiar, sequestrar, torturar, assassinar e fazer desaparecer militantes políticos que faziam oposição, armada ou não, aos regimes militares da região.

O GT Operação Condor da Comissão Nacional da Verdade examinou um conjunto de documentos, obtidos junto a acervos no Brasil, Argentina, Estados Unidos e Paraguai, que atestam a participação de órgãos e agentes da ditadura brasileira em atividades que, no marco da Operação Condor, serviram para a preparação de operações clandestinas que resultaram em graves violações aos direitos humanos de cidadãos brasileiros no exterior, assim como de estrangeiros no Brasil.

Com vistas a enriquecer essa pesquisa inicial com sugestões, críticas e novas informações sobre as questões apresentadas, o GT Operação Condor da Comissão Nacional da Verdade apresenta lista de documentos relevantes sobre o tema analisados por seus pesquisadores.

Clique aqui para ter acesso ao site da Comissão Nacional da Verdade