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Transformar a educação pública, a missão

Conheça as histórias de educadoras que, com dedicação e criatividade, têm contribuído para mudar a realidade de centenas de estudantes através de um ensino emancipador

Publicado: 11 Março, 2025 - 07h39

Escrito por: Redação | Editado por: Redação

“Ensinar é um ato político e precisamos nos unir”

Desde a adolescência, a dedicação pela educação já era algo intrínseco na vida de Samira Moreira Guergolett, 35. Educadora pública na maior metrópole do país, São Paulo, há quase quatro anos, ela coleciona os desafios de trabalhar nas escolas periféricas do estado. 

Aos 16 anos, Samira já era militante ativa no movimento estudantil em defesa de uma educação democrática e de qualidade. Participou de várias lutas junto a outros estudantes ao ingressar no ensino técnico na Etec São Paulo (Etesp), durante o ensino médio regular, na Escola Estadual Loureiro Júnior, e posteriormente na Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec).

“Mesmo tendo atuado em multinacionais e no serviço público, como o Metrô de São Paulo, sempre senti que meu lugar era dentro da educação”, confessa.

E foi para lá que ela retornou, dessa vez como educadora, mas com a mesma certeza de quando era adolescente. “Meu coração está na luta pelos estudantes e pela construção de uma educação democrática e com equidade, sem qualquer distinção”, enfatiza.

Educação que acolhe

Em 2023 o trabalho de Samira passou a impactar a vida de centenas de estudantes na Zona Norte de São Paulo. Na Escola Estadual Heróis da FEB, foi responsável por implementar o projeto “Tutoria Pedagógica Bilíngue". Nele, ela trouxe luz à situação dos estudantes estrangeiros em extrema carência que a escola atendia, a fim de proporcionar uma experiência mais acolhedora em suas novas rotinas.

Ela conta como, nos últimos anos, a região recebeu imigrantes de países como Angola, Paraguai, Bolívia, Haiti e República Dominicana. E muitos alunos que eram matriculados nas escolas se viam inseridos em uma nova realidade sem ao menos compreender a língua portuguesa, costumes, leis e culturas locais, dificultando não só o desenvolvimento da aprendizagem, como as interações sociais com os outros estudantes.

Filiada ao Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), a professora e seu projeto foram vencedores pela região Sudeste na primeira edição do Concurso Juventude que Muda a Educação Pública, da CNTE.

“Participar do Concurso com o projeto foi uma conquista que me abriu portas para continuar essa e novas iniciativas”, conta.

“Ganhar esse prêmio me levou a Brasília, onde pude apresentar o projeto na Conferência Nacional de Educação (Conae 2024). Tive a honra de conhecer e receber os cumprimentos do Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Após tudo isso, fui selecionada para realizar a formação em nível nacional ‘Culturas em Diálogo: Educação e Diversidade’, promovida pelo grupo Mais Unidos e a embaixada dos Estados Unidos, tendo como finalização a criação de um e-book sobre educação antirracista, e também fui convidada para participar dos eventos do G20 Brasil- 2024, no Rio de Janeiro”, celebra.

Conquistas coletivas

Embora as dificuldades presentes na educação pública, sejam essas estruturais ou ambientais, para a Samira, cada conquista alcançada traz a emoção e a certeza de estar contribuindo positivamente na jornada de cada estudante que já passou em sua classe.

“A sala de aula é sempre um ambiente de muitos desafios. É necessário compreendermos a realidade complexa que os nossos alunos carregam, sobretudo quando se trata de escolas periféricas. É desafiante trazer, todos os dias, metodologias de autoconhecimento, buscando sempre uma educação antirracista e inclusiva”, diz.

“Mas, com toda certeza, tenho somado inúmeras situações de profunda emoção dentro da minha profissão”, reitera. “Tenho muito orgulho das conquistas de cada um dos meus alunos que hoje estão em grandes universidades públicas e privadas, que conquistaram notas quase máximas em suas redações, e lembram das minhas aulas de literatura e interpretação enquanto cursam o ensino superior.  Alunos estes que inclusive já lançaram livros e conquistam cada vitória com muito orgulho de sua história”, compartilha.

Para ela, educar é um ato de inspiração com alta capacidade de transformar realidades e possibilitar aos estudantes vislumbrar um novo horizonte através dos olhos e palavras do professor. "A quem pensa em iniciar na docência, eu diria que há um universo de possibilidades, mas é necessário ter em mente as dificuldades do nosso dia a dia", considera.

Em uma tarefa desafiadora e com tamanho poder de impacto, ela destaca ser essencial se manter com espírito e mente de quem sempre aprende e se aperfeiçoa em prol de oferecer a melhor aula e ensino emancipador.

"Somos agentes de influência e transformação para os nossos educandos. Como dizia nosso patrono da educação, Paulo Freire, 'Me movo como educador, porque, primeiro, me movo como gente.' Não é fácil o dia a dia, mas ver o quanto podemos marcar a vida de cada aluno de forma positiva é incrível. Ensino é um ato político e precisamos nos aproximar, nos unir enquanto classe e nos manter firmes em nosso espírito de luta", reitera.

Novos caminhos, grandes oportunidades

Mais da metade da graduação em direito já havia sido concluída quando Vitória Nicolini Nunes, 32, decidiu tomar novos rumos em sua vida profissional. Amante da disciplina de História e vinda de uma família de muitos educadores, em um primeiro momento, o trabalho em sala lhe causava um certo temor, apesar de admirar a profissão.

“Logo que me formei no Ensino Médio, ingressei no curso de Direito. Foram três anos cursando. Fiz estágio na área, mas não  me via exercendo a profissão. Decidi, então, ingressar no curso que sempre foi a minha matéria preferida na escola: História”, compartilha a educadora do Rio Grande do Sul. 

Durante a jornada de uma nova formação, foi aprovada no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid). “Me ajudou muito a encarar o 'temor' que eu tinha das salas de aula”, relata.

“Sempre admirei a carreira, pois tenho familiares que exercem essa profissão. Então, decidi unir uma área que eu já gostava com uma profissão que eu também admirava. E para a minha sorte, as salas de aula se mostraram fascinantes desde a minha primeira oportunidade profissional”, declara. 

Reconhecimento 

Uma das mais valiosas recompensas para a educadora tem vindo dos laços de carinho e reconhecimento com seus estudantes, que perduram mesmo após o encerramento dos ciclos de aprendizagem.

“É extremamente gratificante rever os alunos e eles ainda lembrarem de mim com carinho. Antes do conteúdo, eu gosto quando eles compartilham comigo os momentos de suas vidas, as dúvidas, angústias e realizações. É a maior recompensa possível”, afirma.

Em 2023, o empenho de Vitória para o desenvolvimento humano, crítico e pedagógico de seus estudantes a colocou em locais de destaque nacional. Com a implementação do projeto “O Brasil que Jean-Baptiste Debret Viu X o Brasil que Nós Vemos”, a educadora foi uma das vencedoras do Concurso Juventude que Muda a Educação Pública pela região Sul. Promovida pela CNTE, a seleção busca dar visibilidade ao trabalho que tem sido feito por educadores jovens em todo o Brasil, em prol de uma educação de qualidade, democrática e emancipadora aos estudantes da rede pública de ensino básico.

Em seu projeto, a professora trabalhou a análise sobre as marcas da escravidão no Brasil, com auxílio das obras produzidas pelo pintor e ilustrador francês, estimulando alunos e alunas a enxergarem a sociedade em que vivem para além de suas realidades. 

Segundo ela, os pontos principais do trabalho eram conseguir promover um experimento que aprofundasse melhor as questões voltadas para a valorização da cultura afrodescendente e para o combate ao racismo entre os estudantes do oitavo ano. 

Filiada ao Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (CPERS) entre os anos de 2019 e 2023, Vitória reconhece o papel dos sindicatos como um instrumento de luta para a valorização dos profissionais no seu estado. 

“São vários os desafios da docência. Mas em sala de aula, o principal é a ausência das famílias junto à educação das crianças. Uma família que acompanha a vida escolar de seus filhos faz toda a diferença no processo de aprendizagem dos estudantes. Mas eu sou otimista com o futuro, então, sempre espero que as coisas mudem para melhor, mesmo diante das dificuldades que a gente enfrenta na carreira”, avalia.

“Minha perspectiva é de esperança, com valorização dos trabalhadores da educação, não só financeira, mas também perante a sociedade. Quem busca entrar na profissão precisa ter em mente que, mais importante que o conteúdo, é ter em mente que estamos lidando com seres humanos. Muitas vezes, a escola é o lugar mais feliz que aquela criança frequenta, então, tente tornar essa experiência agradável. Um ambiente de aprendizagem gentil e acolhedor faz toda a diferença”, aconselha a educadora. 

Educação de corpo e alma

A paixão pela dança e a vontade de transformar vidas por meio da arte se movem em sincronia na vida de Viviane Santos, 33. Celebrando uma década como educadora no Rio Grande do Norte, ela compartilha os aprendizados e ensinamentos diários que encontra na profissão, que vão para além do corpo em movimento. 

A educadora ainda cursava licenciatura em dança pela Universidade Federal de seu Estado, quando deu seus primeiros passos no ensino. ”Seguir carreira na educação foi pensar em transformar vidas por meio de uma coisa que eu mais amava fazer, que era dançar. Foi um dos maiores impulsionadores para realizar esse desejo”, conta.

E nessa jornada, os estudos nunca estiveram fora de foco. Hoje, especialista em Dança Educacional pela Faculdade Censupeg e mestre em Arte pela UFRN, a professora transmite aos estudantes da Escola Estadual Zila Mamede, em Natal, as possibilidades e riquezas do ensino da arte da dança.  

“Um dos momentos mais importantes da minha vida, logo no início da minha carreira, foi quando tive a oportunidade de ser bolsista em um Programa Federal Mais Educação, onde fui monitora de dança”, diz.

Criado pela Portaria Interministerial n.º 17, em 2007, a iniciativa buscava ampliar o tempo de permanência dos estudantes nas escolas públicas, por meio da educação integral. Além da jornada dos alunos, o programa permitia a formação continuada de educadores públicos em todo o país, possibilitando o contato e experiência em sala de aula dos recém-chegados na profissão. “Foi naquela escola que me encontrei como a 'professora Vivi' e decidi, de fato, seguir a carreira”, lembra a professora.

“Ver o ensino impactar a vida das crianças, com o poder da transformação que a dança tem, foi incrível. Algo que me fez lembrar da minha infância, quando também tive a oportunidade de aprender sobre a dança na escola”, completa.

Superação de desafios

Em 10 anos como trabalhadora da educação, a professora, que é filiada ao Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Rio Grande do Norte (Sinte-RN), coleciona as superações dos desafios como profissional e permanece na luta por um ensino de qualidade que atenda a toda a rede pública. 

Um desses desafios veio com a maternidade. Como uma mulher no mercado de trabalho, Viviane guarda na memória a sensação de como foi retornar a lecionar em meio às inseguranças da dupla jornada de trabalho. 

‘É outro momento muito importante na minha carreira. Voltar a trabalhar depois da licença maternidade, enfrentar os desafios na escola, vivendo uma nova realidade, como mãe, foi algo que me transformou muito”, considera.

“Foi desafiador, assustador e, ao mesmo tempo, um combustível diante da vida. Conciliar a profissão com a maternidade, solo, fora outros atributos que tinha/tenho enquanto mulher, estudante e pesquisadora, é algo difícil, mas vejo, ao ensinar, um olhar mais empático e aberto a atender o outro, inclusive na construção da relação que tenho com os meus alunos”, relata.

Espaço para as artes

Na aprendizagem dos estudantes, ela compartilha as dificuldades de lecionar a disciplina como polivalente - isto é, uma disciplina que abrange diversos conteúdos, diferentes aplicações e empregos -, principalmente, com a baixa carga horária determinada para segmentos como o ensino médio. “Encontrar espaço dentro do currículo para o ensino da arte, especialmente da dança, por si só, já é um desafio”, diz a educadora.

Mas em 2020, ao receber o título de mestre em Artes pela UFRN, a digital de Viviane se torna ainda mais forte no ensino público do estado. 

"Uma das grandes realizações na minha carreira profissional foi a conquista do meu título de mestre. A minha pesquisa trouxe para o currículo do nosso estado uma proposta pedagógica para o ensino de dança no Novo Ensino Médio", conta.

No estudo, ela utiliza os próprios êxitos como exemplo. Com fotos do trabalho realizado junto aos alunos do Centro Estadual de Educação Profissional Dr. Ruy Pereira dos Santos, durante seu período como docente da instituição, a educadora reafirmou a importância e os benefícios da inclusão da arte como componente eletivo nas escolas.

A falta de estrutura física de muitas escolas, não só do estado, como em todo o Brasil, ainda não asseguram que a arte seja lecionada com todo o seu potencial.

“Além da pouca estrutura para as aulas práticas, o meu desafio é resgatar o desejo entre os estudantes de estar na escola, de se sentir pertencentes e instigar a permanência, insistir na paixão pelo conhecimento e no afeto, nas construções da coletividade e das relações interpessoais, que por vezes também têm se perdido”, comenta.

“Trabalhar com a educação é entender que não sabemos de nada até estar em uma sala de aula pela primeira vez. Parece que a faculdade não nos ensinou o bastante. Quando temos a virada de chave e nos encontramos com a nossa versão professora(o), aí sim começamos um trajeto de aprender todos os dias em um encontro com o outro, conosco e com os métodos possíveis que vamos encaixando”, finaliza.

Realização de propósitos

“Desafiante, mas transformadora”. Assim define Camila Beatriz Faria, 28, sobre a decisão de seguir carreira na educação pública. Formada em museologia e história, a jovem educadora de Rio Verde, Goiás, caminha para uma década de trabalho na  educação, sendo quatro desses em sala de aula. 

Parte dos seus anos de trabalho, atuou em outras posições, como educadora patrimonial - área que busca estimular a preservação e conscientização sobre o patrimônio cultural e histórico de uma comunidade ou região. Mas foi graças às boas influências que cruzaram a sua vida, quando ainda estudante, que a inspiraram a seguir a docência.

“Sempre tive um desejo de mudar as realidades por meio do conhecimento, e me inspirei em muitas outras professoras ao longo da vida!”, ela declara.

A professora já registra bons frutos no ensino público. A educadora da rede pública de Águas Lindas, município localizado a 195 quilômetros da capital goiana, foi uma das vencedoras da segunda edição do Concurso Juventude que Muda a Educação Pública, promovido pela CNTE.  

Iniciativa de sucesso

Nomeado ‘Cine EducAlimentação’, o projeto buscou trazer para dentro da escola  debates e reflexões sobre temas como insegurança alimentar e direito à alimentação adequada. 

Uma vez ao mês, ela reúne os estudantes para uma sessão do projeto onde reproduz curtas e reportagens especiais sobre o tema, e o funcionamento de políticas como o Plano Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). 

“A ideia surgiu em 2022. Unindo as disciplinas de História e Geografia, trabalhamos  sobre segurança alimentar, memória cultural e desigualdades no acesso de recursos. O intuito era conscientizar e mostrar para os estudantes do ensino fundamental II do Colégio Estadual Maria do Carmo Lima ferramentas como o audiovisual e economia criativa para enfrentar desafios sociais e econômicos”, explica.

Com o auxílio  dos recursos audiovisuais, o processo de aprendizado e compreensão de assuntos mais complexos por parte dos estudantes é facilitado, possibilitando o debate sobre o conteúdo após o fim de cada sessão. 

“A recepção foi muito positiva, com os estudantes, que sempre participam ativamente, refletindo suas perspectivas e aprendizados”, celebra. Parte de cada encontro ainda reserva um momento para a degustação e compartilhamento de lanches, produzidos especialmente por pequenos feirantes e produtores locais. 

Em 2022, o Cine EduAlimentação da professora Camila também venceu a 6ª edição do Prêmio Territórios, promovido pelo Instituto Tomie Ohtake. 

Junto aos outros cinco vencedores do concurso da CNTE, a professora, que é filiada ao Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Estado de Goiás (Sintego), embarcará para Recife, Pernambuco, onde apresentará os resultados positivos do seu projeto no Encontro Pré Congressual da juventude da Confederação.

“Foi uma grande alegria e emoção por todo o trabalho realizado até aqui. Estou animada para compartilhar minhas experiências e ouvir outras em Recife, contribuindo para a construção de uma rede de projetos educacionais inovadores”, celebra Camila.

Trajetória promissora

Os reconhecimentos colhidos mostram que o propósito da educadora, de transformar vidas, tem seguido os rumos corretos. E para ela, a maior recompensa dessa desafiadora profissão é poder reencontrar antigos alunos, e vê-los ingressar no ensino superior, trilhando a profissão dos seus sonhos. “Sem dúvidas é a maior recompensa!”, declara.

“O maior desafio que temos é lidar com a desigualdade estrutural que impacta diretamente o acesso à educação de qualidade, especialmente em comunidades vulneráveis. A educação é uma carreira transformadora… é preciso estar preparado para enfrentar desigualdades, mas cada avanço, por menor que pareça, tem um impacto imensurável na vida de seus estudantes”, reforça.

Ensino que resgata e preserva 

A história da professora Noêmia Gonçalves, 30, é a prova concreta de como as boas experiências e profissionais da educação marcam a vida dos seus estudantes. Formada em história pela Universidade Estadual de Roraima, a jovem educadora conta que a decisão de entrar na carreira surgiu ainda na escola, inspirada nos bons professores que teve.

“A minha motivação surgiu ainda no ensino médio. Foi aquele clássico clichê, em que um professor de História que tive foi o motivador para eu prestar vestibular e seguir carreira na área ainda durante a graduação”, compartilha. 

E esse foi apenas o pontapé para a relação de extrema importância que Noêmia viria a construir na educação. Hoje especialista em História da Amazônia e mestranda no programa de mestrado profissional também em História, a professora viu seu trabalho ganhar ainda mais significado ao acreditar que, por meio do ensino, também seria capaz de disseminar e preservar a memória e identidade dos povos da sua região, enquanto contribui para a formação crítica dos estudantes.

“Acreditar no poder transformador da educação e querer ser parte desse processo foi um bom impulso para mim”, declara. 

Resgate do aprendizado

Atuando na área desde 2022, quando ingressou como docente no quadro efetivo de educadores de Roraima, hoje é Noêmia quem desperta a vontade de aprender com os seus próprios alunos.

“Foi marcante quando consegui desenvolver um projeto sobre a história das mulheres escravizadas amas de leite. Ver os estudantes se interessarem, manterem o foco e fazerem perguntas críticas foi muito gratificante. É esse tipo de realização que faz com que o trabalho docente tenha um impacto transformador na vida de cada aluno”, considera. 

Para ela, cativar a atenção e combater o desinteresse entre os alunos é a batalha que muitos profissionais da educação enfrentam diariamente nas salas de aula do país. Um desafio que traz a necessidade de se remodelar constantemente a apresentação dos conteúdos.

“Combater o desinteresse de alguns estudantes e a necessidade de adaptar o ensino às novas tecnologias com recursos limitantes e, sem perder o vínculo com o conteúdo histórico, são obstáculos constantes”, aponta.

“Algo que fica ainda mais difícil quando temos que lidar com a pouca valorização profissional. Mesmo morando em um dos estados que melhor paga os professores, ainda enfrentamos condições salariais que nem sempre refletem o trabalho que realizamos”, lamenta a educadora.

Filiada ao Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Roraima (Sinter), ela reforça a mobilização a favor da ampliação de direitos e recursos para a educação pública em seu estado. 

“Entre os profissionais mais jovens, assim como eu, os sindicatos têm o papel de conscientizar sobre a importância da luta coletiva e da solidariedade na busca por condições de trabalho dignas… também é uma ajuda na construção de espaços de diálogo para que os educadores enfrentem os desafios da profissão juntos. Acredito que estar no sindicato seja um passo importante para a luta de nós, trabalhadores da educação”, ressalta.

Apesar das complexidades da profissão, para Noêmia, trabalhar na educação também é viver momentos gratificantes. “Muito além do domínio do conteúdo, temos que ter paciência, empatia e resiliência, e estar preparada para lidar com diferentes realidades sociais e desafios diários é fundamental”, diz.

“Mas a sensação de contribuir para o crescimento e formação de outras pessoas é algo que torna tudo válido. Escolher a educação, de certa forma, é escolher fazer a diferença”, afirma.