Uma mulher, 178 países e 32 milhões de educadores
Após 16 anos à frente da Internacional da Educação, Susan Hopgood encerra seu mandato como líder da federação global deixandoum legado de defesa dos direitos humanos
Publicado: 19 Março, 2025 - 05h35
Escrito por: Redação | Editado por: Redação
Professora, ativista, sindicalista e líder global, Susan Hopgood é um dos nomes mais influentes no cenário da educação pública mundial e dos direitos dos trabalhadores. Em 2024, encerrou seu mandato de 16 anos como presidente da Internacional da Educação (IE), passando o bastão para Mugwena Maluleke.
Nascida em 1952 em Cohuna, Austrália, Susan iniciou sua carreira no ensino em 1974 como professora de matemática. Seu envolvimento com a causa sindical começou cedo, ao perceber os desafios enfrentados por seus colegas educadores, que lidavam com baixos salários, falta de recursos e condições de trabalho precárias.
Ela passou a se envolver ativamente no sindicato Australian Education Union (AEU). Seu comprometimento a levou a ocupar cargos de liderança dentro da instituição, culminando, em 2006, em sua eleição como Secretária Federal do AEU, tornando-se a primeira mulher a assumir essa posição. Sua influência foi além das fronteiras australianas, sendo eleita, em 2009, presidente da IE, federação global que representa mais de 32 milhões de professores e funcionários da educação em 178 países, da qual a CNTE é filiada.
Sob sua liderança, a EI lutou contra o sucateamento da educação pública, a privatização do ensino e a precarização da profissão docente. Ao longo dos anos, Hopgood enfatizou a importância da solidariedade global para fortalecer a profissão e garantir acesso universal à educação pública de qualidade. Em discursos e eventos internacionais, denunciou os desafios enfrentados por professores em regiões de crise e guerra, além de propor debates e campanhas sobre mudanças climáticas, ataques à democracia e a necessidade de mais investimento para o setor educacional.
"Não faltam recursos para financiar a educação pública, mas sim vontade política para fazer da educação a prioridade que o mundo precisa", destacou ela. "Precisamos garantir que o financiamento público seja direcionado para onde é mais necessário – assegurando que cada aluno tenha um professor profissionalmente treinado, qualificado e bem apoiado, em um ambiente de aprendizado de qualidade.
O investimento no bem comum é fundamental para a democracia, e não há investimento melhor do que uma educação pública de qualidade, com professores bem treinados e bem remunerados", completou. Direitos Humanos Além de sua atuação sindical, Hopgood foi ferrenha defensora dos direitos humanos e da educação como um direito fundamental. À frente da IE, realizou campanhas contra a violência de gênero nas escolas e pelo respeito à diversidade dentro do ambiente escolar.
“A educação é um direito, não um privilégio. Nossa missão é garantir que nenhum professor e nenhum aluno seja deixado para trás”, declarou. Durante a pandemia de COVID19, esteve na linha de frente da defesa dos professores, cobrando governos para que garantissem segurança, infraestrutura e condições dignas para a continuidade do ensino, especialmente nos países mais vulneráveis.
Entre os desafios desse período, ela apontou especial atenção que trabalhadores e estudantes devem ter com as novas tecnologias. Foto: Divulgação IE “Aprendemos que a tecnologia é, muitas vezes, um esquema de enriquecimento rápido do setor privado. Aprendemos sobre nós mesmos como uma federação, realizando e participando em uma média de 100 eventos globais e regionais on-line por ano, avançando nosso trabalho e nos esforçando para fazer parte da governança global, incluindo e assessorando organizações como a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o Fórum Econômico", declarou.
Foi na gestão de Susan que a IE criou, no ano de 2018, o Dia Mundial do Funcionário da Educação. Junto à CNTE e a outras a entidades filiadas, a federação global aumentou ainda mais a visibilidade desses profissionais, fortalecendo a luta pela formação e valorização do trabalho da categoria composta por auxiliares administrativos, merendeiros, auxiliares de serviços gerais, de apoio e vigilância, entre outros.
Ao declarar sobre suas expectativas para o futuro da educação pública, a ex-presidente da IE reforçou a necessidade de ações estratégicas dos países para atrair e reter professores qualificados.
“A ONU afirmou que os governos precisam garantir salários profissionais competitivos, empregos estáveis, boas condições de trabalho e cargas horárias equilibradas. Eles também instam os governos a assegurar investimentos públicos na educação e a rejeitar medidas de austeridade.Minha esperança é que as recomendações da ONU sirvam como um plano de ação para que as organizações membros as utilizem em suas campanhas nacionais e locais, pressionando os governos a enfrentar a escassez global de professores e outros desafios da profissão docente.
Também representam um mandato claro para continuar promovendo a equidade de gênero em nossa profissão e em nossos sindicatos”, disse.